Estilo de vida
05/12/2023 às 09:00•2 min de leitura
Há cerca de 150 mil anos, uma espécie humana enorme e de cabeça gigantesca, conhecida como Homo longi, percorria as florestas geladas do norte da China. Apelidados de "Homens-Dragão", esses antigos hominídeos foram recentemente identificados como uma linhagem irmã do Homo sapiens, apesar das suas proporções grotescas. E uma nova reconstrução do rosto humano extinto revela como eles podem ter sido.
Nomeado em homenagem ao rio Heilong Jiang ("dragão negro", em tradução livre), o Homo longi entrou no registro arqueológico pela primeira vez em 1933, quando trabalhadores da construção civil descobriram um crânio primorosamente preservado enquanto construíam uma ponte. Só em 2021, no entanto, é que os pesquisadores perceberam que o crânio pertencia a uma espécie até então desconhecida.
(Fonte: Cícero Moraes/Divulgação)
Datado de pelo menos 146 mil anos atrás, o dono do crânio encontrado ocupou o leste asiático numa época em que os humanos modernos conviveram com vários de nossos parentes evolutivos mais próximos, incluindo neandertais e denisovanos. Descrito como sendo "enorme em tamanho" e possuindo uma série de características faciais únicas, como órbitas quadradas, maçãs do rosto planetas e dentes enormes, o Homem-Dragão definitivamente era uma criatura única.
À primeira vista, esses hominídeos pareciam ser uma relação um tanto quando distante dos humanos contemporâneos. No entanto, investigadores acreditam que o Homem-Dragão pode, de fato, estar mais relacionado com os humanos modernos do que até mesmo nossos "irmãos" mais célebres: os neandertais. Até agora, porém, não tínhamos muita ideia de como eles se pareciam.
Para representar a semelhança do antigo hominídeo, o especialista brasileiro em reconstruções faciais Cícero Moraes criou um modelo digital do crânio usando dados e imagens fornecidos pelos autores do estudo de 2021. O crânio completo de outro ser humano antigo, o Homo erectus, foi então incorporado para preencher fragmentos faltantes da mandíbula do Homo longi e de alguns dentes.
(Fonte: Cícero Moraes/Divulgação)
Após recolher todos os dados necessários, Moraes adicionou marcadores de tecidos moles em seu projeto, fazendo tomografias computadorizadas de humanos modernos e chimpanzés e deformando-os para se ajustarem aos contornos do crânio do Homem-Dragão. Isso resultou na criação de um busto digital em escala "anatomicamente coerente", baseado em dados objetivos e técnicas de modelagem confiáveis.
Porém, como as imagens resultantes foram feitas para serem apresentadas ao público geral, Moraes permitiu-se utilizar uma abordagem artística e adicionou cabelo e coloração ao modelo — realçando os aspectos mais vívidos da espécie. Com base no modelo final, os pesquisadores calcularam que o Homo longi tinha perímetro cefálico de 65,1 centímetros.
Essa medida faria com que o Homem-Dragão tivesse, de longe, a maior cabeça de qualquer hominídeo conhecido, colocando o corpo do humano extinto no mesmo nível de gorilas e leões. De acordo com os especialistas, o enorme tamanho da espécie pode refletir uma adaptação às temperaturas congelantes do norte chinês, que hoje chega a -16 °C no inverno.