Mitrídates: o rei que 'inventou' o método de imunização a venenos

07/12/2023 às 14:003 min de leitura

Antes de entrar em colapso, o Império Romano alcançou mais de 5 milhões de quilômetros quadrados de extensão, portanto, não é para menos que foi um dos maiores domínios da História – e foi exatamente por esse motivo que desmoronou, uma vez que era impossível defender e administrar essa quantidade toda de terras.

Ao longo do seu caminho, os romanos conquistaram várias regiões, como Grécia, Britânia, o Mar Negro e Península Ibérica; destruindo impérios como o Reino do Ponto, localizado em uma região estratégica na Ásia Menor (atual Turquia), dominado em 643 a.C.

(Fonte: GettyImages/Reprodução)(Fonte: GettyImages/Reprodução)

O Reino do Ponto foi governado pelo hábil, popular e corajoso rei Mitrídates VI, também conhecido como Mitrídates, o Grande, que ficou conhecido por suas tentativas de resistir à expansão romana em direção ao Oriente Próximo e várias regiões do Mediterrâneo durante o século II a.C.

Ao longo do seu reinado, Mitrídates expandiu e consolidou seu poder tentando resistir à expansão romana durante as Guerras Mitridáticas, entre o final do século II a.C. e o início do século I a.C. Tudo para preservar seu desejo de autonomia e a independência do Reino do Ponto. 

A maneira como o rei enfrentou os romanos fez dele um alvo de morte em potencial. Para evitar isso, Mitrídates tentou tornar o corpo humano imune a venenos.

Como aconteceu

Mitrídates VI. (Fonte: GettyImages/Reprodução)Mitrídates VI. (Fonte: GettyImages/Reprodução)

O comportamento expansionista dos romanos forçou seus inimigos a tomar medidas desesperadas, tanto para sobreviver sob a mira dos ataques quanto para escapar de sua fome insaciável por domínio. Ao longo do período de 25 anos que durou as Guerras Mitridáticas, temendo terminar como seu pai, Mitrídates V, morto por envenenamento em 120 a.C., o rei decidiu tomar pequenas doses de veneno todos os dias de modo a dessensibilizar seu corpo do poder letal.

Ele acreditava que, dessa forma, seu corpo desenvolveria uma espécie de tolerância a qualquer dose de veneno que lhe fosse administrada. Para fazer isso, Mitrídates usou criminosos condenados à execução para testar os limites que o corpo humano poderia resistir a doses de veneno sem efeitos colaterais que o invalidassem.

Em Adaptação humana a ambientes ricos em arsênico, a pesquisadora Carina M. Schlebusch explicou como tal coisa foi possível usando como exemplo o corpo dos habitantes do norte dos Andes argentinos, que se adapta e metaboliza altas quantidades de arsênio concentrada na água potável disponível.

(Fonte: GettyImages/Reprodução)(Fonte: GettyImages/Reprodução)

Os resultados sugerem que aqueles que vivem na região e desfrutavam dessa água eram mais resistentes aos efeitos do arsênico, apesar de não tornar o povo de San Antonio de los Cobres imune aos efeitos mortais da substância. Isso significa que eles eram tolerantes até certo ponto. Por meio do gene AS3MT, que codifica a enzima arsênico (+3 estado de oxidação) metiltransferase, eles desenvolveram um metabolismo que pode lidar com a substância de forma mais eficaz no organismo.

Essa enzima codificada pelo gene AS3MT tem a função de catalisar reações químicas que convertem o arsênio inorgânico em formas metiladas (ou seja, minimiza seus efeitos prejudiciais à saúde) mais facilmente excretadas pelo organismo humano.

A morte por veneno

(Fonte: GettyImages/Reprodução)(Fonte: GettyImages/Reprodução)

Portanto, é bem possível que as ministrações do rei tenham funcionado. No entanto, isso só aconteceu porque ele escolheu uma toxina que afeta o corpo de uma maneira diferente de tantas outras. 

A prática de mitridatismo, ou seja, imunização contra venenos, só funcionará para algumas delas. Os metais pesados, como o mercúrio e o chumbo, se acumulam no corpo, o que significa que várias pequenas doses soma uma grande dose. Em vez de conferir tolerância ao organismo, pode danificar gravemente os órgãos vitais do corpo humano. 

Além disso, há também as toxinas processadas pelo fígado e que, um aumento gradual na exposição a elas, pode treinar o órgão a produzir mais enzimas necessárias para metabolizá-las, gerando um grau de tolerância. O álcool é um bom exemplo disso.

(Fonte: GettyImages/Reprodução)(Fonte: GettyImages/Reprodução)

Até hoje, o veneno da cobra é considerado a matéria mitridática perfeita. Ao contrário dos pombos e gambás, os humanos não nascem com nenhuma imunidade a picada de cobra, e é por isso que pode ser tão mortal. Contudo, ao nos expor a uma dose subletal de toxina serpentina, podemos facilmente desenvolver anticorpos para nos proteger contra futuras picadas.

Inclusive, algumas das vacinas mais antigas criadas foram contra veneno de cobra. Elas foram fabricadas injetando cavalos com as toxinas antes de extrair os anticorpos de seu sangue. Mas vários humanos se expuseram diretamente ao veneno de cobra para produzir seus próprios anticorpos, desde uma pequena tribo na Birmânia, o clã Pakokku Snake, até o veterinário do Exército dos EUA, Herschel Flowers, na década de 1960.

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