Lagoas de micróbios são descobertas no deserto do Atacama

13/12/2023 às 09:002 min de leitura

Diversas lagoas cristalinas e vastas planícies de sal foram encontradas no deserto argentino de Puna de Atacama, formando um ecossistema sobrenatural e diferente de tudo que qualquer cientista já viu. As lagoas nunca antes vistas abrigam montes de rochas repletas de micróbios que, à primeira vista, lembram algumas das primeiras formas de vida conhecidas na Terra.

Os pesquisadores descobriram este mundo perdido por acaso depois de detectar uma rede de piscinas estranhas em imagens de satélite do deserto no noroeste da Argentina. Puna de Atacama é um planalto gigante a mais de 3,6 km acima do nível do mar. Na altitude elevada, as condições extremamente secas e o sol escaldante se combinam para formar um ambiente hostil onde poucas plantas e animais sobrevivem.

Paisagem diferenciada

a(Fonte: Brian Hynek/Divulgação)

Para analisar esse ecossistema de perto, o professor de ciências geológicas da Universidade do Colorado Boulder, Brian Hynek, e a microbióloga e cofundadora da consultoria ambiental PunaBio, Maria Farías, caminharam vários quilômetros pela paisagem árida antes de avistarem as lagoas. “É diferente de tudo que eu já vi ou, na verdade, parecido com tudo que qualquer cientista já viu”, disse Hynek em comunicado oficial.

Ao todo, 12 piscinas de água rasa e cristalina cercadas por montanhas constituem o recém-descoberto "ecossistema alienígena", que se estende por 10 hectares de deserto, segundo os pesquisadores. Abaixo da superfície das lagoas, os investigadores também avistaram pequenas colinas cobertas de crescimento microbiano verde. 

“É simplesmente incrível que ainda se possam encontrar coisas não documentadas como esta no nosso planeta”, ressaltaram os cientistas. Esses "montes vivos", que medem cerca de 4,6 metros de diâmetro e vários metros de altura, oferecem uma janela para o estágio inicial da vida na Terra e, potencialmente, até mesmo para a vida antiga em Marte.

Busca por novas informações

a(Fonte: Brian Hynek/Divulgação)

Observações preliminares indicam que o ecossistema no deserto do Atacama pode ser composto por estromatólitos — comunidades complexas de micróbios cujas excreções se solidificam em camadas de rocha — semelhantes aos que existiram durante um período da história da Terra denominado Arqueano (2 a 4 bilhões de anos atrás), quando a atmosfera não continha oxigênio.

Os estromatólitos ainda se formam hoje em vários habitats marinhos e de água doce, mas são muito menores do que os seus homólogos antigos. Os montes nas lagoas do Atacama, por sua vez, tinham tamanho próximo aos estromatólitos arqueanos. “Achamos que esses montes estão realmente crescendo a partir de micróbios, que é o que acontecia nos mais antigos”, disse Hynek. 

De acordo com os pesquisadores, se a vida alguma vez tivesse evoluído em Marte ao nível de fósseis, é assim que as coisas teriam acontecido. Compreender estas comunidades modernas na Terra poderia trazer mais informações sobre o que deveríamos procurar ao buscarmos características semelhantes nas rochas marcianas. Porém, como a atual área de estudos foi alugada para a exploração de lítio no futuro, os pesquisadores terão pouco tempo para confirmar suas observações iniciais antes que esse ecossistema único potencialmente desapareça. 

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