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14/12/2023 às 14:00•4 min de leitura
Nós somos reféns do clima, e isso já ficou bem claro na história da civilização humana. No século XII a.C., os pueblos ancestrais, uma antiga cultura nativa americana dos Quatro Cantos (Novo México, Utah, Arizona e Colorado) dos Estados Unidos, detinha uma população imensa. Pueblo Bonito, uma estrutura de seis andares no Chaco Canyon, continha até 600 quartos, e foi o maior edifício da América do Norte até que os primeiros arranha-céus surgissem em Nova York centenas de anos mais tarde.
Eles viviam no estilo de vida agrícola e dependiam de suas lavouras, especialmente do milho, para sobreviver. Alguns usavam o rio para irrigar seus campos, mas outros dependiam da chuva. O clima foi amigo e inimigo do pueblo ancestral. Por um lado, eles enfrentaram desafios que criaram por desmatarem florestas para abrir mais espaço para colheitas, levando a condições agrícolas desfavoráveis e tornando a terra menos fértil. Porém, o clima instável da época também foi responsável por encurtar a estação de crescimento e diminuir os índices de precipitação. Por volta de 1225 d.C., os assentamentos dessa civilização começaram a desaparecer.
(Fonte: GettyImages/Reprodução)
O mesmo aconteceu com a antiga civilização maia da Mesomérica e os colonos vikings da Groenlândia, que construíram imensas sociedades que implodiram no auge do seu sucesso quando suas elites governantes não adotaram novos mecanismos de sobrevivência para enfrentar as mudanças climáticas radicais provocadas ou não. Eles morreram de fome, massacraram-se uns aos outros ou migraram para outro lugar, deixando nada além de ruínas para trás.
Será que a civilização humana está à beira do colapso causado pelo aquecimento global? Afinal, em um futuro em que o aquecimento global venceu em todos os aspectos, o nível do mar terá aumentado em proporções avassaladoras, bem como tempestades furiosas destruirão cidades inteiras. O calor terá causado incêndios e secas severas, com consequências fortes o suficiente para consumir comunidades, a economia e a possibilidade de um futuro no planeta.
(Fonte: GettyImages/Reprodução)
Como saber que estamos à beira de um colapso? Em seu best-seller "Colapso - Como as Sociedades Escolhem o Fracasso ou o Sucesso", o geógrafo e historiador Jared Diamond responde essa pergunta dizendo que há três indicadores: um padrão persistente de mudança ambiental para pior, como secas ou enchentes; sinais de que os modos de agricultura ou de produção industrial existentes estão agravando essa crise; e uma elite que não abandona práticas nocivas e adota novos meios de produção. Em meio a esses três, em algum momento o colapso irá acontecer.
Hoje, é impossível evitar que um ou todos esses limites sejam ultrapassados. E para citar apenas um entre inúmeros exemplos, a seca que está devastando a Europa, após temperaturas recorde ano passado. É possível que até 2040, a seca possa afetar cerca de três quartos da população mundial, o que significa que a produção agrícola terá que aumentar em 60% para atendar à demanda global de alimentos em 2050. Ou seja, cerca de 71% da área irrigada do mundo e 47% das principais cidades sofrerão pelo menos escassez periódica de água, conforme observou a Convenção das Nações Unidas para Combater a Desertificação (UNCCD).
Há 20 anos, os Estados Unidos também sofrem com o mesmo problema, que os cientistas já chamaram de "megaseca", que acontece no oeste americano, superando todos os períodos de seca regionais registrados em amplitude e severidade. Em agosto de 2021, 99% do oeste norte-americano das Montanhas Rochosas estava seco. O relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas já determinou que as condições estão alterando permanentemente nosso meio ambiente de forma cada vez mais desastrosa.
(Fonte: GettyImages/Reprodução)
Se formos ainda traçar um paralelo do comportamento preocupante da elite governamental, podemos destacar a maneira como o consumo de combustíveis fósseis está cada vez maior, como a dependência e extração de petróleo. Conforme dados da Agência Internacional de Energia (AIE), o consumo global de petróleo, conforme as políticas governamentais atuais, aumentará de 94 milhões de barris por dia, como era em 2021, para cerca de 102 milhões de barris até 2030, permanecendo nesse nível ou perto dele até 2050.
Enquanto isso, os especialistas em clima preveem que as temperaturas médias mundiais em breve ultrapassarão 1,5 graus Celsius acima do nível pré-industrial, o montante máximo que se acredita que o planeta pode absorver sem sofrer consequências irreversíveis e catastróficas, incluindo a extinção da Amazônia e o derretimento da Groenlândia e da Antártida.
Desde sempre que as elites poderosas optam deliberadamente por perpetuar comportamentos que colocarão em risco a sobrevivência da civilização. Na década de 1970, os principais executivos da ExxonMobil Corporation – a maior e mais rica empresa privada de petróleo do mundo – decidiram continuar bombeando petróleo depois que seus cientistas os alertaram sobre os riscos do aquecimento global e como suas operações apenas o amplificaria, com efeitos ambientais dramáticos até 2050.
Em vez de tomarem alguma medida eficaz, eles responderam investindo fundos da empresa em lançar dúvidas sobre a pesquisa sobre mudanças climáticas, chegando a financiar o negacionismo climático diretamente.
(Fonte: GettyImages/Reprodução)
Um estudo publicado em 2021 na revista Nature mostrou que um grupo de pesquisadores que analisou mais de 2 mil anos de história chinesa descobriu a relação entre as perturbações climáticas, o colapso das dinastias e de suas elites poderosas. Apesar de as grandes erupções vulcânicas causarem verões mais frios e monções mais fracas, prejudicando as plantações e contribuindo para o aumento da guerra, o que realmente as destruíram foi a desigualdade e a polarização política.
Eles entenderam que o declínio do padrão de vida tende a levar à insatisfação da população em geral, à medida que as pressões aumentam, a sociedade se fratura e o governo perde legitimidade, tornando mais difícil enfrentar os desafios coletivamente.
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“A desigualdade é uma das maiores vilãs da história”, disse Daniel Hoyer, coautor do estudo e historiador sobre sistemas complexos. “Isso realmente está no centro de muitas outras questões”.
A saída está, portanto, na cooperação social, que pode dar o impulso extra necessário para resistirmos às ameaças ambientais. "É por isso que a cultura importa tanto", disse Hoyer. "Você precisa ter coesão social, precisa ter esse nível de cooperação, fazer coisas que tenham escala, fazer reformas, fazer adaptações, seja desinvestir dos combustíveis fósseis ou mudar a maneira como os sistemas alimentares funcionam".