Estilo de vida
19/12/2023 às 14:00•3 min de leitura
Durante as eras Paleozoica e Mesozoica, entre aproximadamente 335 milhões a 175 milhões de anos atrás, a Pangeia era um supercontinente que se formou durante o final do Paleozoico, especificamente no período Carbonífero, onde surgiram as florestas e jazidas de carvão – por isso o nome. No seu ápice de extensão, no período Permiano, a Pangeia abrangia cerca de um terço da superfície terrestre.
Isso, no entanto, começou a mudar no início da Era Mesozoica, já no Triássico, há cerca de 252 milhões a 201 milhões de anos, devido às forças tectônicas internas da Terra, que levaram à separação gradual dos continentes que compunham a Pangeia. Conforme fendas e rachaduras começaram a se formar como resultado da movimentação, o tectonismo das placas fez o seu trabalho em afastar esses blocos de terras, conferindo a formação de novas características geológicas.
Atualmente, são seis os continentes: América, Europa, Ásia, África, Oceania e Antártida, frutos desse processo de fragmentação e movimentação que continua até os dias atuais. Um estudo recente conseguiu encontrar a Argolândia, o continente perdido que se separou da Austrália há 155 milhões de anos.
(Fonte: Yahoo Finance/Reprodução)
Por várias décadas, a comunidade geológica tentou entender como um pedaço de terra com 5 mil quilômetros de extensão, que fez parte do supercontinente de Gondwana, que abrangia várias porções da Terra, incluindo a América do Sul e a Antártida –, simplesmente desapareceu durante a era Jurássica.
Os cientistas só sabiam que o continente Argolândia uma vez existiu devido às características geológicas únicas nas profundezas oceânicas sob o sudeste da Ásia, mais precisamente pela existência de um imenso pedaço de terra no fundo do mar antigo, conhecido como Planície Abissal de Argo – por isso o nome do continente.
A parte intrigante, no entanto, é que não existem rastros que indicam um deslocamento contínuo do continente e sua fragmentação ao longo do caminho até chegar ao Sudeste Asiático, em que parte dele se instalou. Fósseis, cadeias de montanhas e formações rochosas incomuns nunca foram o suficiente para detectar como isso aconteceu.
O minucioso estudo liderado pelo geólogo Eldert Advokaat, da Universidade de Utrecht, finalmente conseguiu montar partes desse quebra-cabeça por trás do mistério que é a fragmentação da Argolândia.
“Estávamos literalmente lidando com ilhas de informação, e é por isso que nossa pesquisa demorou tanto. Passamos sete anos montando esse quebra-cabeça”, disse Advokaat em um comunicado à imprensa.
(Fonte: Business Insider/Reprodução)
Os especialistas chegaram à conclusão de que a costa de Argolândia começou a se fragmentar no que nomearam de "Argopélago" de ilhas menores há 300 milhões de anos, quando a Antártida, América do Sul, África, Austrália e Índia faziam parte de Gondwana. Isso porque foram detectados pedaços de "continentes fita" ao redor do sudeste asiático, mas que não se encaixavam entre si, sugerindo que poderiam fazer parte de um pedaço de terra maior.
“O que aconteceu no Sudeste Asiático é muito diferente de lugares como África e América do Sul, onde um continente se partiu ordenadamente em dois pedaços”, disse Advokaat.
Com isso, ficou claro que a Argolândia não desapareceu, mas sobreviveu como um conjunto muito extenso e fragmentado sob as ilhas a leste da Indonésia. O continente se trata de uma série de microcontinentes separados ao longo do fundo do oceano, não se trata de uma massa sólida, e por esse motivo que Advokaat e Douwe van Kinsbergen cunharam o termo "Argopélago".
(Fonte: Teknoring/Reprodução)
"A grande questão é que agora podemos dizer que sabemos a quantidade de crosta que estava aqui, sabemos que ela foi altamente estendida e podemos contabilizá-la no registro geológico que encontramos no Sudeste Asiático", disse Advokaat. "Não perdemos continentes sem deixar vestígios. Ainda podemos encontrá-los, e isso significa que podemos fazer reconstruções razoavelmente confiáveis de como era a Terra no passado geológico profundo."
E isso só foi possível por meio de observações paleomagnéticas recém-lançadas, visto que as tentativas anteriores de encontrar o continente no Sudeste Asiático foram frustradas pelas estranhas eras de rocha da região, que desafiam as expectativas de uma única massa de terra enterrada.
A nova análise de Advokaat e van Hinsbergen inverteu o pouco que era conhecido sobre a linha cronológica de Argolândia, propondo que o continente já era uma mistura dinâmica de ilhas e bacias oceânicas quando se separou da Austrália no período Jurássico, dificultando a história de sua deriva para o norte.
Agora, foi sugerido que as partes inferiores do Argopélago foram engolidas pela zona de subducção da Fossa de Funda, uma linha de falha onde a placa continental indo-australiana está sendo empurrada para o manto da Terra pela placa continental euro-asiática. Com isso, parte da crosta superior do continente perdido foi se desfazendo em terra no fundo do mar da porção que sobrevive. Essa ideia ajuda a explicar como os restos de Argolândia acabaram empilhados ao lado de outras camadas rochosas com idades diversas.
(Fonte: Reddit/Reprodução)
Mas isso não é tudo. As descobertas publicadas na revista Gondwana Research também ajudaram os cientistas a entender melhor a bizarra Linha de Wallace, uma barreira invisível que travessa o meio da Indonésia e separa mamíferos, aves e as primeiras espécies humanas nas ilhas do sudeste asiático.
Por anos, essa barreira intriga a comunidade científica devido à maneira como separa a vida selvagem da ilha, mantendo, a oeste, os mamíferos placentários, como macacos e tigres (comuns no sudeste asiático), que são quase ausentes a leste, onde se encontra os marsupiais e cacatuas – animais tipicamente associados à Austrália.
Isso acontece porque a Argolândia carregou sua própria vida selvagem para longe da futura Austrália antes de se chocar com o Sudeste Asiático. Redescobrir esse continente e entender tudo o que aconteceu no seu passado é essencial para a compreensão de alguns processos, como a evolução da biodiversidade e do clima, e para encontrar outros tipos de matérias-primas.