Artes/cultura
27/12/2023 às 08:00•2 min de leitura
Um tubarão-seda (Carcharhinus falciformis) chamou a atenção de pesquisadores após ter recuperado uma parte de sua nadadeira depois de sofrer um ferimento traumático pelas mãos de humanos que vivem na Flórida, nos Estados Unidos. A criatura teve uma etiqueta de satélite instalada em sua barbatana dorsal em junho de 2022 para que os investigadores pudessem acompanhar a sua migração.
Algumas semanas depois, algum desconhecido cortou a etiqueta e deixou o animal com um ferimento devastador. Ao notar que a aparelhagem de detecção estava desaparecida, o mergulhador local John Moor contatou os pesquisadores, revelando uma descoberta completamente impressionante
(Fonte: Josh Schellenberg/John Moore/Divulgação)
Após receberem a chamada de Moore, os cientistas envolvidos no estudo ficaram surpresos com o acontecido. "Eu disse a ele que seria impossível perder a etiqueta de satélite na barbatana dorsal, para que ele soubesse se era um dos nossos tubarões", disse a autora da pesquisa e estudante de doutorado na Universidade de Miami, Chelsea Black. Porém, quando as primeiras fotos chegaram, os investigadores notaram que o tubarão apresentava um enorme rombo onde a etiqueta havia sido posicionada.
Black não esperava ver a criatura novamente, pois tal ferimento era extenso demais e impossibilitaria seu rastreio. No entanto, para a surpresa de todos, o tubarão regressou às mesmas águas e foi fotografado com uma barbatana rejuvenescida — embora ligeiramente atarracada — quase um ano depois. “Minha primeira reação foi de alívio porque o tubarão ainda estava vivo, pois era um ferimento traumático que poderia afetar sua capacidade de nadar ou criar uma infecção significativa”, comemorou Black.
Essa é a primeira vez que os investigadores observaram um tubarão-seda regenerando a sua barbatana dorsal e apenas o segundo caso registrado de regeneração em qualquer tubarão. Essa espécie cresce até 3 metros de comprimento e vive nos oceanos Atlântico, Pacífico e Índico, de acordo com o Museu de História Natural da Flórida. Essas criaturas são vulneráveis à extinção devido à pesca excessiva, embora seja ilegal capturá-los ou matá-los na região.
(Fonte: Josh Schellenberg/Divulgação)
Os ferimentos identificados no tubarão-seda em 2022 foram cortes precisos que traçaram o contorno da etiqueta do satélite. Por esse motivo, os pesquisadores acreditam que pescadores teriam deliberadamente removido o aparelho de rastreamento com um objeto pontiagudo. Culpados não foram identificados, mas existem fortes indícios de que o ato foi realizado para prejudicar a conservação da espécie.
“É mais provável que o tubarão tenha sido capturado por um pescador e eles cortaram a etiqueta para tentar vendê-lo ou simplesmente não queriam que os cientistas o estudassem”, disse Black. A autora do estudo documentou a rara regeneração das barbatanas analisando fotografias de mergulhadores tiradas com 322 dias de intervalo. As fotos revelaram que o animal perdeu 20,8% da barbatana na lesão inicial e recuperou 87% do tamanho original.
A equipe de pesquisa continua tentando aprender como os tubarões conseguem regenerar suas barbatanas, uma vez que isso é muito raramente observado. Black acredita que o novo membro é composto principalmente de tecido cicatricial, mas não existe certeza sobre essa teoria — pois ninguém jamais dissecou uma barbatana de tubarão regenerada.