Artes/cultura
03/01/2024 às 03:00•2 min de leitura
Em um estudo recente, arqueólogos revisitaram os restos mumificados de uma adolescente desenterrada em 1908 no cemitério El Bagawat, no famoso Oásis de Kharga, no Egito.
Para o espanto dos pesquisadores, a análise mostrou que a jovem, entre 14 e 17 anos, estava no meio do parto de gêmeos, quando complicações levaram à sua morte.
(Fonte: Revista Internacional de Osteoarqueologia/Reprodução)
A múmia foi desenterrada no começo do século XX, mas só recentemente, mais de um século depois, a tecnologia permitiu uma compreensão mais profunda do que aconteceu durante o fatídico parto.
Usando tomografia computadorizada, logo de cara os pesquisadores perceberam que o corpo do bebê que havia sido colocado junto à múmia não possuía cabeça. O susto foi maior quando perceberam que a cabeça da criança ainda estava na pélvis da mãe, o que certamente foi a causa da morte.
Segundo os especialistas, isso pode acontecer quando o feto está em posição pélvica, ou seja, quando o bebê está sentado na barriga da mãe, sendo necessário fazer sua vinda ao mundo pelo quadril ou pelos pés (diferente do parto normal, em que a cabeça é a primeira parte do bebê a sair).
Dessa maneira, provavelmente a criança foi decapitada acidentalmente durante o nascimento, levando à morte também da mãe e, para mais uma surpresa, do segundo bebê — desconhecido até então.
Radiografia mostrando o segundo feto. (Fonte: Revista Internacional de Osteoarqueologia/Reprodução)
A tomografia revelou a existência de mais um feto, só que esse preso à cavidade torácica da mãe. Os pesquisadores especulam que os embalsamadores da época não sabia que se tratava da gravidez de gêmeos, deixando o segundo feto dentro da mãe.
Esse fato intrigante destaca as limitações do conhecimento médico e das práticas funerárias na antiguidade. Em particular, demonstra os perigos associados à gravidez, ao parto e ao nascimento, especialmente quando se tratava de gestações múltiplas, consideradas altamente indesejáveis na sociedade da época.
A cultura egípcia antiga revela seu temor pelos nascimentos de gêmeos por meio de feitiços e encantamentos destinados a proteger as mães de tal "nascimento irregular". O Decreto Amulético Oracular, um papiro do terceiro período intermediário, clama pela segurança contra dar à luz gêmeos, evidenciando a aversão cultural a esse evento.
A nova descoberta lança luz sobre a natureza religiosa, em vez de médica, do parto no antigo Egito. Enquanto a medicina da época é bem documentada, a gravidez e o parto permanecem envoltos em mistério, revelando uma lacuna no conhecimento histórico.