Estilo de vida
17/01/2024 às 04:30•2 min de leitura
Resquícios de pele são difíceis de encontram em registros fósseis. Afinal, a carne externa de organismos antigos é muito mais propensa a ser comida por necrófagos ou apodrecer do que os ossos resistentes. Porém, às vezes, paleontólogos têm alguma sorte e consegue realizar feitos históricos.
Um exemplo disso aconteceu em uma caverna de Richards Spur, em Oklahoma. Nessa localização, os investigadores encontraram impressões fósseis de pele verdadeiramente antigas que foram preservadas de uma forma muito incomum por cerca de 288 milhões de anos. Segundo os cientistas, esses restos mortais vieram dos primeiros amniotas, que eram animais parecidos com lagartos e uma das primeiras criaturas a viver a vida inteira em terra firme.
(Fonte: Current Biology/Divulgação)
Os fósseis recentemente descobertos são o registro mais antigo de pele preservada já encontrado por seres humanos, sendo cerca de 130 milhões de anos mais velho do que o recordista anterior. Os restos mortais contêm não apenas a textura exterior da pele, mas também a estrutura interna da epiderme. Por esse motivo, os paleontólogos têm retornado a Richard Spur há anos.
“É uma localidade excepcional”, diz o autor do estudo e paleontólogo da Universidade de Toronto, Ethan Mooney. Há centenas de milhões de anos, sedimentos de granulação fina preencheram fissuras de um antigo sistema de cavernas na região, enterrando os restos dos primeiros amniotas e outros animais. O que torna Richards Spur especial, no entanto, é uma interação única entre os sedimentos ricos em argila da caverna, a falta de oxigênio e o óleo que escorria das rochas da caverna.
A maioria dos seres vivos se decompõe completamente após a morte, sem deixar vestígios no registro fóssil. Nesse caso, os antigos restos de animais enterrados na caverna provavelmente foram deixados em uma área relativamente seca e com baixo teor de oxigênio — criando uma condição rara. A pele dura, com escamas feitas do mesmo material das unhas, conseguiu dessecar e ter mais chances de ser enterrada junto com os ossos do animal.
(Fonte: Michael de Braga/Reprodução)
As novas descobertas não são apenas raras, mas também ajudam a preencher uma lacuna de conhecimento sobre como eram as coberturas corporais dos primeiros amniotas. Logo, os dados obtidos são muito mais do que superficiais. Quando os investigadores usaram tomografias computadorizadas para observar os detalhes dentro da pele fóssil, eles descobriram dados impressionantes.
A estrutura interna desses animais era semelhante a dos crocodilos modernos e também era adequada para os movimentos de caminhada lado a lado — algo parecido com o que os lagartos fazem. Do lado de fora, a pele do Captorhinus parece escamosa. Essas informações, de alguma forma, falam sobre algumas mudanças pelas quais os primeiros amniotas estavam passando à medida que se adaptavam a uma vida mais terrestre do que seus ancestrais anfíbios.
“Houve uma transição de tipos de pele de anfíbios com ossos por baixo para uma pele totalmente terrestre com escamas externas duras”, disseram os pesquisadores em comunicado oficial. Embora a pele de Richards Spur seja agora a mais antiga do tipo já conhecida, a evolução da pele escamosa deve ter acontecido antes mesmo disso. Porém, novos estudos ainda serão necessários para entender mais sobre esse processo.