Noruega aprova prática controversa de mineração em alto mar

23/01/2024 às 09:002 min de leitura

A Noruega acaba de dar mais um passo para se tornar o primeiro país no mundo a abrir seu fundo marinho à mineração comercial em alto mar. O sinal verde foi concedido numa votação parlamentar ocorrida na última terça-feira (09). A decisão, no entanto, surge apesar dos avisos dos cientistas de que tal atividade poderia ter um impacto devastador na vida marinha.

Além disso, a Noruega enfrentou uma forte oposição da União Europeia e do Reino Unido, que apelaram a uma proibição temporária da mineração em alto mar devido a preocupações ambientas. Mesmo assim, a proposta foi aprovada por 80% dos parlamentares e deverá acelerar a exploração de minerais — incluindo metais preciosos — que são muito procurados por tecnologias verdes.

Medida polêmica

(Fonte: GettyImages)(Fonte: GettyImages)

Embora a decisão se aplique inicialmente apenas às águas norueguesas, pesquisadores estimam que uma área maior do que a Grã-Bretanha será exposta à potencial mineração por parte das empresas, que poderão solicitar licenças para extrair minerais — incluindo lítio, escândio e cobalto. Prevê-se um acordo sobre mineração em águas profundas em águas internacionais possa ser alcançado até o fim do ano.

Após a votação, o governo da Noruega foi imediatamente criticado por ir contra o que os cientistas ambientais têm falado e até mesmo as recomendações dos seus próprios especialistas. Em declaração oficial, a organização não governamental ambiental Greenpeace considerou que esse foi "um dia vergonhoso" para o país. “É embaraçoso ver a Noruega posicionar-se como líder oceânica e, ao mesmo tempo, dar luz verde à destruição dos oceanos nas águas do Ártico”, disse o chefe do Greenpeace Noruega, Frode Pleym.

Expectativas para o futuro

(Fonte: GettyImages)(Fonte: GettyImages)

A princípio, o governo norueguês não permitirá imediatamente que as empresas comecem a perfurar em alto mar. Para que as operações sejam realizadas, elas terão de apresentar propostas, incluindo avaliações ambientais, para uma licença que será então aprovada caso a caso pelo parlamento.

"Atualmente não temos o conhecimento necessário para extrair minerais do fundo do mar da maneira necessária. A proposta do governo de abrir uma área para atividade permite que os atores privados explorem e adquiram conhecimento e dados das áreas em questão. Isso não é o mesmo que aprovar a extração de minerais do fundo do mar", argumentou a presidente do Comitê Permanente de Energia e Meio Ambiente, Marianne Sivertsen Naess, em entrevista à BBC.

Por outro lado, grupos de ativistas argumentam que deveria ser feito mais investimento na reciclagem e reutilização dos minerais existentes que já foram extraídos em terra. A Fundação para Justiça Ambiental estima num relatório que 16 mil toneladas de cobalto por ano — cerca de 10% da produção mundial — poderiam ser recuperadas por meio de uma melhor reciclagem de celulares.

A Autoridade Internacional dos Fundos Marinhos (ISA) se reunirá em 2024 para tentar finalizar as regras de exploração mineral em alto mar em águas internacionais, com uma votação final prevista para 2025. Embora mais de 30 países sejam a favor de uma proibição temporária, nações como a China já se mostraram ansiosas para ver a ISA progredir no quesito.

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