Como o plantio de árvores estaria contribuindo para a destruição do planeta

30/01/2024 às 13:004 min de leitura

Há 12 mil anos, antes que os humanos começassem a praticar a agricultura, havia cerca de 6 trilhões de árvores no mundo. Segundo estimativas de 2015 do Springer Nature, atualmente existem aproximadamente 3 trilhões de árvores no planeta.

Estima-se que 15 bilhões de árvores são cortadas anualmente, o que significa que mais de 41 milhões delas são derrubadas por dia, como apontam dados do The Nature Conservacy. Devido a esse ritmo de degradação da terra e a impossibilidade dos métodos tradicionais de reflorestamento, campanhas foram lançadas para que mais árvores fossem plantadas como forma de "compensação" do dano.

(Fonte: GettyImages/Reprodução)(Fonte: GettyImages/Reprodução)

Estatísticas compiladas pelo 8BillionTrees, incluindo o Programa Ambiental das Nações Unidas, apontaram que cerca de 1,9 milhões de árvores são plantadas anualmente, sendo que é estimado que 158 milhões de árvores em todo planeta são replantadas todos os meses. Desde o início do período industrial, as florestas diminuíram 32%, principalmente na região dos trópicos.

Em face ao desespero causado pelo aquecimento global, iniciativas recordaram a essencialidade das árvores na manutenção da vida humana, pois oferecem serviços que vão desde o armazenamento de carbono e conservação do solo até a regulação do ciclo de água. As árvores sustentam sistemas alimentares naturais e humanos, e sua perda significaria uma catástrofe. 

Apesar disso, o ecologista Thomas Crowther revelou como o plantio de árvores estaria contribuindo para a destruição do planeta.

Um mundo sem árvores

(Fonte: GettyImages/Reprodução)(Fonte: GettyImages/Reprodução)

Um futuro sem árvores significa que estaremos em um planeta que não nos sustentaria mais. Grande parte da biodiversidade da Terra desapareceria com o fim das árvores, com extinções maciças de todos os grupos de organismos, de animais a fungos. Fora das florestas, a vida selvagem que depende de árvores individuais e pequenos povoamentos delas seria esgotada, uma vez que uma árvore isolada em uma região aberta pode atuar como uma espécie de ímã de biodiversidade, atraindo e fornecendo recursos para muitos animais e plantas. Um estudo de 2018 liderado por Jayme A. Prevedello descobriu que a riqueza geral de espécies é 50 a 100% maior em áreas com árvores espalhadas do que em áreas abertas.

Florestas mortas se tornariam locais propensos a secas extremas, causando inundações desastrosas. A erosão afetaria os oceanos, sufocando os recifes de coral e outros habitats marinhos. As ilhas sem árvores perderiam suas barreiras naturais para o oceano e desapareceriam em meio às águas, aumentando o nível do mar.

O clima da Terra seria alterado de maneira vertiginosa a curto e longo prazo, uma vez que as árvores sugam a água do solo e a lança para a atmosfera, transformando-a de líquido para vapor, contribuindo para a formação de nuvens e precipitação. Sem as florestas, testemunharíamos um tipo de seca e calor jamais enfrentados pela humanidade. Outro estudo de Prevedello indicou que a remoção completa de uma área de 25 quilômetros quadrados de árvores fez com que as temperaturas anuais locais aumentassem em pelo menos 2 °C em áreas tropicais e 1 °C em áreas temperadas.

(Fonte: GettyImages/Reprodução)(Fonte: GettyImages/Reprodução)

As árvores combatem o aquecimento causado pelas mudanças climáticas ao armazenar carbono em seus troncos e remover dióxido de carbono da atmosfera. Ao dizimá-las, os ecossistemas antes florestados se tornariam uma fonte de emissão de dióxido de carbono na atmosfera, em vez de um sumidouro. Com isso, enormes quantidades de carbono seriam canalizadas para o oceano, causando sua acidificação extrema e matando tudo, exceto águas-vivas.

É previsto que, com o tempo, seriam liberados 450 gigatoneladas de carbono na atmosfera, o dobro da quantidade que os humanos já contribuíram. Ao longo de 10 anos, é possível que plantas menores e gramíneas compensassem a falta das árvores, mas duraria pouco. Isso porque, apesar de elas capturarem carbono em uma taxa mais rápida do que as árvores, também o liberam mais rapidamente. Ou seja, chegaria a um ponto que essas plantas não seriam mais capazes de evitar o superaquecimento do planeta.

A Terra experimentaria um calor similar ao do período Devoniano, há cerca de 350 e 420 milhões de anos, antes de as primeiras árvores.

O erro de Crowther

(Fonte: GettyImages/Reprodução)(Fonte: GettyImages/Reprodução)

Se está se perguntando como o plantar árvores pode não ser a solução para combater o desmatamento desenfreado e evitar esse futuro obscuro, a resposta é simples: o plantio de árvores não conscientiza ninguém.

Durante a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2023 (COP23), que aconteceu de 30 de novembro a 13 de dezembro de 2023, em Dubai, o ecologista Thomas Crowther, antigo conselheiro científico da Campanha dos Trilhões de Árvores das Nações Unidas, falou para os ministros do Meio Ambiente pararem de plantar tantas árvores.

Segundo o ecologista, as plantações em massa não são a solução ambiental que deveriam ser, e que o potencial das florestas recém-criadas para reduzir o carbono é, muitas vezes, exagerado. Inclusive, elas podem acabar se tornando prejudiciais à biodiversidade, a começar porque estão sendo usadas por grandes empresas como forma de compensação para o desmatamento que causam na rota de expansão dos seus negócios.

(Fonte: GettyImages/Reprodução)(Fonte: GettyImages/Reprodução)

Diante de um teatro cheio, Crowther admitiu o erro que cometeu em 2019, quando o seu laboratório no Instituto Federal de Zurique (ETHZ) descobriu que a Terra tinha espaço para mais 1,2 bilhões de árvores, que poderiam absorver até dois terços do carbono que os humanos têm emitido historicamente para a atmosfera desde o período industrial.

O ecologista panfletou o quanto isso poderia consertar várias coisas quebradas pelo homem no que diz respeito à contribuição para o aquecimento global, e seu estudo acabou desencadeando uma mania de plantação de árvores por parte das empresas e líderes de Estado que queriam polir suas credenciais verdes em vez de realmente reduzirem suas emissões.

A ameaça verde

(Fonte: GettyImages/Reprodução)(Fonte: GettyImages/Reprodução)

Antes da COP28, Crowther publicou um artigo detalhado revelando que a preservação das florestas existentes pode ter um impacto climático maior do que o plantio de árvores. Durante a conferência, ele apresentou resultados visando frear o greenwashing que seu estudo de 2019 parecia encorajar.

O ecologista defendeu seu ponto alegando que "matar o greenwashing" não significa parar de investir na natureza, muito pelo contrário, mas fazer o certo. Significa distribuir riqueza às populações indígenas, aos agricultores e às comunidades que vivem com a biodiversidade.

No entanto, parece que o alerta desesperado de Crowther não teve muito efeito, porque a ministra das mudanças climáticas e do meio ambiente dos Emirados Árabes Unidos (EAU), Mariam Almheiri, fez um discurso em que se gabou que aos EAU estão a meio caminho do plantio de 100 milhões de mangais até 2030.

(Fonte: GettyImages/Reprodução)(Fonte: GettyImages/Reprodução)

E ela não foi a única. A Empresa Nacional de Petróleo de Abu Dhabi (ADNOC) apresentou um dos maiores planos de expansão de qualquer empresa petrolífera do mundo, uma iniciativa incompatível com o cumprimento das metas do Acordo de Paris, que procurava limitar o aquecimento global a 1,5 graus Celsius.

Quando Crowther foi indagado sobre os planos dos EAU, ele respondeu que não sabia o suficiente sobre o processo deles para julgar. Ironicamente, foi esse tipo de otimismo, com um toque de ingenuidade e iniciativa precoce, que fez o ecologista causar um impacto – para não dizer estrago – nas políticas de preservação da natureza.

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