Artes/cultura
02/02/2024 às 11:00•2 min de leitura
Se a Itália propusesse um projeto para endireitar a Torre de Pisa, todo mundo ficaria surpreso, certo? Afinal, a inclinação da torre é uma de suas características mais marcantes e atrai turistas do mundo inteiro.
Pois bem: algo nessa linha está acontecendo com a Pirâmide de Miquerinos, também conhecida como Pirâmide de Menkaure, parte do famoso complexo da Necrópole de Gizé.
Isso porque ela está muito diferente de seu estado original — como eram as pirâmides quando foram construídas na Antiguidade. Muitos dos blocos de granito que a revestiam caíram com o tempo. Além disso, um sultão tentou destruir a pirâmide, mas desistiu, deixando um buraco no meio da estrutura. A ideia do Egito é restaurar tudo isso.
Equipes estão escavando os arredores da pirâmide para achar os blocos de granito perdidos, que também já estão sendo recolocados. A reforma começou em janeiro de 2024 e deve levar três anos para ficar pronta. Isso se as polêmicas não suspenderem os trabalhos.
Fonte: Wikimedia Commons
Mostafa Waziri, chefe do Conselho Supremo de Antiguidades do Egito, descreve a restauração como "o projeto do século". A ideia é devolver a Pirâmide de Miquerinos ao estado original, com as camadas extras de granito — e sem o característico buraco no meio de uma das faces.
Indo além em sua empolgação com o projeto, Waziri também afirma que esse seria "o presente do Egito para o mundo, no século XXI". O problema é que muitos especialistas, bem como uma grande parte do público, desaprovaram o projeto.
"Só faltou azulejarem a Pirâmide de Miquerinos!", comentou a egiptóloga Monica Hanna em uma postagem do Facebook que divulgava o início dos trabalhos. Segundo ela, "todos os princípios internacionais de restauração proíbem esse tipo de intervenção".
De fato, a preservação do patrimônio histórico no Egito gera debates acalorados há tempos. A última grande polêmica envolveu uma mesquita em Alexandria, segunda maior cidade do país: os empreiteiros encarregados pela restauração decidiram pintar o teto da mesquita — que era repleto de pinturas e ornamentos — todo de branco.
Pelo que podemos perceber, os especialistas temem que os projetos de restauração egípcios terminem em desastres como o da pintura Ecce Homo — com as obras ficando ainda piores do que estavam antes.
Das três principais pirâmides — Quéops, Quéfren e Miquerinos —, a que está sendo restaurada é a menor delas. Quéops, também conhecida como a Grande Pirâmide de Gizé, tem 138 metros de altura, enquanto a de Quéfren tem 136 metros e a de Miquerinos tem "só" 61.
Conta-se que o faraó enterrado nela reinou por pouco tempo. Por isso, não conseguiu construir uma pirâmide tão grande.
Mas além de seu tamanho menor, a Pirâmide de Miquerinos se destaca pelo buraco quadrado, bem no meio de uma de suas faces. Ele é atribuído ao sultão Al-Aziz Uthman: em 1196 d.C., ele mandou destruir as pirâmides, começando por essa.
Só que Al-Aziz descobriu que destruir as pirâmides era quase tão difícil quanto construí-las. Os empregados conseguiam remover somente algumas pedras por dia — e, quando conseguiam, elas afundavam na areia. Então, o sultão desistiu, deixando só esse "rombo" na estrutura. Aliás, algumas dessas pedras são as que o Egito quer recolocar no lugar, em 2024.