Artes/cultura
08/02/2024 às 12:00•2 min de leitura
Uma descoberta feita há 20 anos pela bióloga australiana Caroline Gargett não só a tornou mundialmente famosa, como abriu um campo de pesquisa totalmente novo em biologia reprodutiva. Ao pesquisar células diferenciadas em tecidos removidos durante cirurgias de histerectomia, ela descobriu células-tronco e progenitoras.
Até então, essas células, supervalorizadas pela sua capacidade em reparar tecidos danificados e no tratamento do câncer e insuficiência cardíaca, só podiam ser obtidas por meio de biópsia cirúrgica ou dolorosas extrações de medula óssea com agulha.
Para confirmar sua hipótese de que as unidades vitais eram mesmo células-tronco, Gargett e sua equipe da Universidade Monash, na Austrália, as submeteram a uma bateria de testes rigorosos. Ao comprovar sua capacidade de se autorrenovarem, perceberam que algumas delas se dividiam em cerca de mais 100 unidades em apenas uma semana.
(Fonte: I. Uzieliene et al.)
Para surpresa de Gargett, na mesma época de sua pesquisa, duas outras equipes fizeram uma descoberta ainda mais espantosa: algumas daquelas células-tronco mesenquimais do estroma endometrial poderiam estar presentes no sangue menstrual. A princípio, a australiana considerou um “desperdício” do corpo, a eliminação de um componente tão precioso para sua sobrevivência.
Mas logo percebeu o alcance da descoberta: a partir daí, ela deixou de depender de uma invasiva biópsia cirúrgica para obter aquelas células-tronco que localizou inicialmente no endométrio, e passou a coletá-las facilmente por meio de um simples copo menstrual.
Estudos posteriores ajudaram a explicar de que forma amostras dessas preciosas células-tronco endometriais acabavam sendo eliminadas no sangue menstrual. É que o endométrio possui duas camadas: uma basal mais profunda, que permanece intacta durante a menstruação, e outra camada funcional superior, que se desprende durante o processo.
(Fonte: Getty Images)
Após algumas pesquisas com animais em laboratório terem sugerido que as células-tronco menstruais têm potencial terapêutico além das doenças ginecológicas, alguns pequenos ensaios clínicos concluíram que as células-tronco menstruais podem ser transplantadas com sucesso em humanos sem efeitos colaterais adversos.
Atualmente, a equipe de Gargett também está tentando desenvolver terapias humanas. Eles pretendem usar células-tronco endometriais, aquelas retiradas diretamente do tecido endometrial, na criação de uma malha natural para tratar o prolapso do períneo, uma condição dolorosa causada no parto, que afeta a bexiga, o útero ou o reto.
A pesquisa, por enquanto realizada apenas in vivo com modelos animais, indica que a utilização de células estaminais endometriais da própria paciente traria melhores resultados no revestimento de malhas biodegradáveis para apoiar tecidos pélvicos fracos, do que as malhas sintéticas utilizadas atualmente.