Artes/cultura
06/11/2024 às 12:00•4 min de leituraAtualizado em 06/11/2024 às 12:00
A imagem dos gladiadores romanos é poderosa e repleta de contrastes. Eles eram ícones do espetáculo, figuras de força, coragem e sangue, destinados a entreter as massas com batalhas épicas. Muitos caíram sem deixar rastro, mas alguns conquistaram a fama, registrando seus nomes na história. Vamos conhecer seis gladiadores que se destacaram no império romano, deixando legados que ultrapassaram as areias da arena.
Espártaco (Spartacus) é, sem dúvidas, o mais famoso entre os gladiadores. Originário da Trácia e ex-soldado do exército romano, ele acabou capturado e vendido como escravo. Mas Espártaco não se contentou com esse destino: ele liderou uma das maiores rebeliões de escravos da história, a Guerra dos Gladiadores (73-71 a.C.).
Com um grupo inicial de 70 companheiros, Espártaco escapou de uma escola de treinamento de gladiadores em Cápua, refugiando-se no Monte Vesúvio. A rebelião cresceu rapidamente, chegando a 90 mil seguidores, e colocou Roma em alerta. A revolta não tinha a intenção de transformar a sociedade, mas a resistência de Spartacus fez com que seu nome fosse lembrado como um símbolo de luta e liberdade, inspirando revolucionários ao longo dos séculos.
Marco Atílio era um cidadão romano que decidiu tornar-se gladiador voluntariamente, provavelmente para pagar dívidas. Em sua estreia, ele foi colocado contra Hilário (Hilarus), um gladiador veterano e campeão pessoal do imperador Nero. Apesar de ser um novato, Atílio derrotou Hilário, surpreendendo a plateia e conquistando a admiração do público romano.
A habilidade de Marco chamou tanto a atenção que seu nome foi registrado nos muros de Pompeia, preservado pela erupção do Vesúvio em 79 d.C. Sua história revela um lado menos comum da vida de gladiador: nem todos eram forçados a lutar, alguns viam na arena uma oportunidade de conquistar honra e redenção.
Enquanto Espártaco se rebelou contra o sistema, Espículo (Spiculus) soube aproveitá-lo a seu favor. Treinado em Cápua, como muitos gladiadores, ele chamou a atenção de ninguém menos que o imperador Nero. Em sua primeira luta, Espículo derrotou um veterano, ganhando o interesse e, mais tarde, a amizade de Nero.
Essa amizade lhe trouxe prestígio e presentes valiosos. Mas, em 68 d.C., Nero foi condenado à morte, e ele chamou por Espículo para ajudá-lo a evitar uma execução pública. O gladiador, no entanto, não atendeu ao chamado, e Nero acabou cometendo suicídio. Embora tenha se distanciado do imperador, Espículo também não teve um final feliz. Ele foi alvo da hostilidade popular após a queda de Nero e acabou morrendo de forma trágica — sendo esmagado por estátuas de Nero.
Enquanto muitos gladiadores lutavam contra outros homens, Carpóforo se especializou em combates contra animais selvagens. Ele enfrentava leões, ursos, leopardos e até rinocerontes em eventos conhecidos como venationes (veações ou bestiários). Em um dos espetáculos mais memoráveis, ele matou 20 feras diferentes em uma única batalha, demonstrando uma habilidade impressionante.
Sua carreira era ainda mais arriscada do que a de outros gladiadores, pois lutar contra animais exigia um talento especial e pouca margem para erros. Carpóforo tornou-se uma lenda não apenas por sua coragem, mas também pela destreza que exibia ao enfrentar feras que, normalmente, matariam qualquer um.
Flamma, cujo nome de batalha significa "chama", foi outro gladiador memorável. Antes de sua vida na arena, ele era um soldado sírio capturado e enviado para a morte certa. Mas o destino tinha outros planos, e Flamma sobreviveu, impressionando a plateia romana com suas habilidades. Ele lutou principalmente na Sicília e sua popularidade o levou a lutar 34 vezes, vencendo 21 dessas batalhas.
Flamma recebeu o rudis, uma espada de madeira que simbolizava a liberdade, em quatro ocasiões diferentes, mas recusou todas as vezes, escolhendo permanecer na arena. Ele se tornou um ídolo dos romanos e morreu aos 30 anos, uma idade considerável para um gladiador. Sua lápide foi encomendada por um companheiro de armas, o que mostra o respeito que ele conquistou dentro e fora da arena.
Cômodo era mais do que um gladiador famoso — ele foi o próprio imperador de Roma, governando de 180 d.C. até seu assassinato em 192 d.C. Filho do respeitado imperador Marco Aurélio, Cômodo demonstrava uma fascinação incomum pela vida de gladiador. Ele afirmava ter vencido cerca de 12 mil lutas, mas, claro, ninguém ousaria enfrentá-lo de verdade.
Além de lutar na arena, ele também realizava venationes, matando feras selvagens a partir de uma posição segura. Ele dedicava tanto tempo às lutas que chegou a esvaziar o tesouro romano. Sua arrogância e desprezo pelos deveres imperiais irritaram os cidadãos e senadores romanos, e Cômodo foi morto em sua banheira por Narciso, um de seus lutadores.
Ao longo de suas vidas, esses gladiadores viveram o contraste entre a brutalidade e a glória. Seus nomes resistiram ao tempo, e suas histórias mostram a complexidade de um mundo onde a arena romana era palco para tanto horror quanto para a ascensão de verdadeiros ícones.