Artes/cultura
11/04/2016 às 08:46•4 min de leitura
Pessoas que falam vários idiomas são intrigantes e conseguem fazer com que qualquer mortal se sinta um pequeno grão de areia insignificante. O que elas fazem para ter fluência em múltiplas línguas? Estudam 24h por dia? Têm técnicas para decorar palavras? Têm superpoderes?
Para responder a essas perguntas, ninguém melhor do que um cara que é fluente em SETE idiomas – húngaro, inglês, francês, alemão, italiano, russo e indonésio. A seguir, conheça as táticas de aprendizado do húngaro Balázs Csigi, CEO de uma empresa de idioma que se propõe a ensinar métodos inovadores para quem quer aprender novas linguagens.
Csigi fala sobre a sensação de entender um idioma, mas não conseguir se sentir fluente a ponto de falar como um nativo ou de, no mínimo, perder o sotaque e os cacoetes de estrangeiro. No início, o que ele fazia era decorar novas palavras e estudar gramática sem parar, mas o que mudou seu aprendizado foram duas descobertas: linguística cognitiva e semântica cultural. Para ele, foi isso que o fez ir de um “momento ‘aha!’” para outro.
Ter fluência em vários idiomas é para poucos, mas é possível.
Antes, Csigi aprendia como muitos de nós aprendemos e memorizava palavras e frases, aplicava aprendizados gramaticais em novas sentenças e praticava com outros alunos algumas reações automáticas. Se você estuda outro idioma, essa receita possivelmente soa familiar – e cansativa. A verdade é que esse processo nos deixa desmotivados em pouco tempo.
Deixar de ser obsessivo com as questões gramaticais e mergulhar no universo cultural de cada idioma foi o que fez com que Csigi chegasse ao ponto de escrever artigos para pessoas que têm o inglês como sua língua nativa, por exemplo, sem dificuldades. Idem para participar de conferências e discutir todo tipo de ideias com ingleses e norte-americanos, sem a menor dificuldade – “eu diria até que ganhei uma segunda identidade”, comparou.
O jeito é estudar além da gramática e das novas palavras.
Se tem uma coisa a respeito da qual Csigi fala é a tal “semântica cultural”, um termo que pode parecer novo para algumas pessoas, mas cuja definição é simples de ser compreendida. Semântica cultural é basicamente o que nos faz criar uma conexão verdadeira com uma nova cultura, é aprender o que ela tem a oferecer além da linguagem.
Pense no próprio Brasil como exemplo. Nosso país é imenso, e dentro dele há regionalismos característicos. Não apenas o sotaque nordestino é diferente do paulista, como facilmente reparamos que expressões e gírias cariocas não são as mesmas que as paranaenses, por exemplo.
Aprender um novo idioma é mergulhar na questão cultural que está impregnada no que os nativos de determinado idioma falam. É conseguir compreender algumas expressões, ainda que se saiba que elas não se traduzem literalmente. Isso é semântica cultural, e esse conceito ainda não é amplamente ensinado em escolas de idiomas, infelizmente. Para Csigi, compreender a semântica cultural de um idioma é a melhor forma de se tornar fluente. Confira algumas das observações dele a seguir:
O idioma falado em um país é construído com base na cultura da região também, e se você fica preso somente às questões gramaticais e às traduções literais, vai ter dificuldade em se tornar fluente. “Muitas palavras em uma linguagem são únicas e não podem ser traduzidas exatamente para outros idiomas”, explica Csigi.
Este GIF está aqui só por causa da cabine telefônica mesmo
O expert fala que, em inglês, a falta do uso de algumas palavras pode significar que uma pessoa é rude ou mal-educada, o que a impedirá de causar uma boa impressão, obviamente. Ainda falando da língua inglesa, vale frisar que, em países do Reino Unido, a falta do uso de palavras como “please” e “thank you” é vista como algo extremamente rude, enquanto no Brasil nem sempre pedimos por favor ou agradecemos – e nem por isso somos considerados rudes, especialmente se estivermos entre amigos.
Csigi cita outros termos que nem estão diretamente ligados a essa questão de educação, mas que são “amaciadores” em diálogos, e que ele passou a usar com mais frequência na medida em que se tornava fluente em inglês: a little bit (um pouco), really (realmente), probably (provavelmente), I think (eu acho) e as far as I know (até onde eu sei) são alguns exemplos.
Quanto mais informação, melhor.
A expressão “quite good” é entendida, pela maioria dos europeus, como um elogio – no caso de um jantar, por exemplo, dizer que estava “quite good” pode significar que a comida estava boa; agora se você diz isso na Inglaterra, a pessoa vai entender como “estava comível”. Os britânicos costumam valorizar muito as pessoas que consideram “polite”, ou seja, aquelas realmente educadas, que sempre pensam antes de dizer alguma coisa.
Ter noção é fundamental.
Csigi não fala apenas do otimismo básico, que é aquele pensamento positivo a respeito dos mais diferentes aspectos da vida. Ele explica que esse otimismo está presente, inclusive, na língua inglesa, que tem o costume de substituir palavras negativas por versões mais neutras e positivas.
Como exemplo, ele explica que a palavra “problem” é muitas vezes substituída por versões mais neutras como “issue” (questão). “A maioria das palavras em uma língua estrangeira revelam uma mentalidade específica, que é mais facilmente sentida quando você traduz de um idioma para o outro. Talvez você entenda a sensação quando a tradução se parece com a versão original”, explica.
Aprender é sempre bom.
Decorar verbetes até pode ser uma saída, mas não para quem quer se tornar fluente de verdade em um novo idioma. Csigi explica que o aprendizado de uma nova língua nada tem a ver com decorar vocábulos, sentenças prontas e se prender a regras gramaticais em cada fala.
Em todo o seu texto, que foi publicado originalmente no Business Insider, o expert reforça a necessidade de mergulhar na cultura de cada lugar e de entender que algumas expressões não podem – nem devem – ser traduzidas literalmente. “Não importa qual idioma você está aprendendo, permita que o pulsar de uma nova cultura corra por suas veias”, finaliza.
Não é assim que se faz
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