Ciência
23/10/2024 às 18:00•2 min de leituraAtualizado em 23/10/2024 às 18:00
A China está determinada a ser a primeira a desvendar os segredos dos neutrinos, uma das partículas mais misteriosas do universo. Para isso, construiu o gigantesco Observatório Subterrâneo de Neutrinos de Jiangmen (JUNO), que está em fase final de construção e deve entrar em operação em 2025.
Enterrado a 700 metros de profundidade, o JUNO tem como objetivo medir essas partículas elusivas que atravessam o corpo humano e praticamente todo o universo a cada segundo. Apesar de sua abundância, os neutrinos são incrivelmente difíceis de detectar, e os cientistas sabem pouco sobre eles — especialmente sobre a chamada “hierarquia de massa”, um dos grandes mistérios da física.
O JUNO não está sozinho nessa corrida. Projetos semelhantes nos Estados Unidos e Japão também estão em andamento, mas o observatório chinês parece estar à frente. Segundo Wang Yifang, diretor do projeto, ser o primeiro a solucionar o enigma da hierarquia de massa dos neutrinos é essencial.
Se os pesquisadores chineses conseguirem determinar com precisão quais são os neutrinos mais leves e quais são os mais pesados, o impacto na física será profundo, podendo mudar nossa compreensão de fenômenos astrofísicos, como o funcionamento das estrelas e das supernovas.
O coração do JUNO é uma esfera gigante de aço e acrílico, com mais de 13 andares de altura, cercada por milhares de tubos que detectam luz. Esses tubos vão captar a passagem de neutrinos emitidos por duas usinas nucleares próximas, ajudando os cientistas a coletar dados essenciais sobre essas partículas por até seis anos.
A ideia é que, ao estudar os neutrinos, eles possam entender melhor os processos nucleares do Sol e até mesmo as forças que movimentam a Terra, como a convecção do manto, responsável pela movimentação das placas tectônicas.
Embora o observatório chinês esteja prestes a começar a coleta de dados, a jornada para a construção do JUNO não foi fácil. A colaboração internacional que envolve cientistas da França, Alemanha, Itália, Rússia e até mesmo Taiwan mostra o caráter global desse esforço. No entanto, a relação com os Estados Unidos tem sido complicada.
A colaboração com o Fermilab, o principal laboratório de física de partículas dos EUA, foi interrompida em 2018 devido a tensões políticas. Ainda assim, um grupo de pesquisadores americanos permanece envolvido no projeto, destacando o desejo de manter o foco na ciência, apesar das pressões geopolíticas.
O JUNO tem o potencial de revolucionar a física de partículas, especialmente se conseguir solucionar a hierarquia de massa dos neutrinos antes de outros grandes projetos como o DUNE, nos Estados Unidos, que só deve ficar pronto em 2030. Mas a ciência dos neutrinos não se limita apenas à teoria: algumas aplicações futuras podem ser extraordinárias.
Pesquisadores já sugerem que os neutrinos poderiam ser usados para transmitir mensagens através da matéria sólida, como a Terra, a uma velocidade próxima à da luz. Isso poderia abrir novas possibilidades de comunicação e outros avanços tecnológicos impensáveis.
Por ora, os cientistas buscam desvendar os mistérios essenciais dos neutrinos. Com sua tecnologia de ponta e apoio internacional, o JUNO pode posicionar a China na vanguarda de uma das maiores descobertas da física moderna, ampliando nosso conhecimento sobre a matéria e o universo.