Artes/cultura
28/10/2024 às 15:00•3 min de leituraAtualizado em 28/10/2024 às 15:00
Um tecido roxo de quase 2.400 anos, com tingimento raro e material de origem persa, foi encontrado no famoso Túmulo II de Vergina, na Grécia, despertando grande interesse entre arqueólogos e historiadores. A peça encontrada, possivelmente a túnica real de Alexandre, o Grande, oferece pistas preciosas sobre a história da Macedônia e a influência persa na corte macedônica.
Descoberta por uma equipe internacional de arqueólogos, essa vestimenta extraordinária, por muito tempo cercada de lendas e mistério, sugere que itens de Alexandre podem ter sido herdados por seu meio-irmão, Filipe III Arrideu. A teoria, embora ainda controversa, traz à tona um debate histórico sobre a quem realmente pertencem os túmulos reais de Vergina e quem seriam seus ocupantes.
As tumbas de Vergina, ligadas à linhagem de Alexandre, têm sido um ponto de interrogação para os arqueólogos desde a descoberta inicial nos anos 1970, quando acreditavam que o Túmulo II pertencia a Filipe II, pai de Alexandre. Entretanto, com a descoberta do tecido roxo e sua análise detalhada, um novo estudo propõe que o túmulo pertence, na verdade, a Filipe III, que herdou vários pertences de Alexandre, incluindo sua túnica e outros itens de alto valor simbólico.
Feita de algodão – material raro e importado da Pérsia –, a túnica é tingida no famoso tom roxo de Tiro, utilizado apenas pela realeza na época e muitas vezes mais valioso do que o ouro. Isso, por si só, já indicaria a conexão entre o vestuário e a figura de Alexandre, o qual, após suas conquistas persas, adotou trajes e costumes da realeza do Oriente.
Além da análise do tecido, a tumba contém um friso que retrata um homem, possivelmente Alexandre, em uma cena de caça, usando uma túnica roxa decorada com duas faixas brancas, um design específico que também é associado ao sarapis, ou chiton, vestimenta persa adotada por Alexandre após a conquista da Pérsia.
O uso da túnica, combinado com a presença de minerais persas na coloração do tecido, fortalece a teoria de que o item seria de Alexandre, mais especificamente uma peça que refletia sua transição entre culturas e poder.
Segundo os pesquisadores, a túnica e o cetro dourado, também de origem persa, foram possivelmente levados de volta à Grécia por Filipe III Arrideu, coroado após a morte do irmão. É sabido que Arrideu teria retornado à Macedônia com alguns pertences de Alexandre, fato que poderia explicar a presença da túnica no Túmulo II.
A identidade dos ocupantes dos túmulos reais tem sido uma questão que perdura há quase cinquenta anos, sem respostas conclusivas. A equipe responsável pelo estudo, com base em dados osteológicos, encontraram evidências adicionais, como a condição física dos restos mortais na Tumba II, que estão intactos, corroborando com o fato que Filipe III, ao contrário de seu pai e de Alexandre, não sofreu traumas corporais.
Já a Tumba I conteria os restos de Filipe II, identificado por meio de uma fusão óssea na perna – atribuída ao ferimento que causava sua famosa claudicação – e de um bebê recém-nascido, provável filho de Cleópatra, última esposa do rei.
Para os arqueólogos, essa descoberta vai além da identificação do túmulo; ela revela a influência persa nos trajes reais e evidencia um elo cultural entre Macedônia e Pérsia, fruto das conquistas de Alexandre. A túnica, símbolo de poder, seria um legado de Alexandre herdado por Arrideu, que, ao se tornar rei, carregou consigo essa marca de autoridade e tradição do irmão.
A descoberta não resolve o mistério sobre o destino de Alexandre, mas nos aproxima de uma época em que símbolos e alianças se mantinham em detalhes como a cor e o material de uma túnica. Mais que um tecido, ela é uma relíquia da fusão cultural promovida por Alexandre e de um legado que sobreviveu nos túmulos de Vergina, desafiando ainda os especialistas.