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05/05/2024 às 15:00•2 min de leituraAtualizado em 05/05/2024 às 15:00
Pioneiros na astronomia, os antigos egípcios associavam a Via Láctea à deusa Nut, dando à galáxia um lugar de destaque em sua cultura, ao contrário do que se imaginava. É o que sugere um estudo publicado no Journal of Astronomical History and Heritage, no início de abril.
Até então, o papel da Via Láctea na religião e na cultura egípcia antiga não era claro, apesar da civilização ser famosa pelo amplo conhecimento do sol, da lua e dos planetas. Mas, de acordo com o astrofísico da Universidade de Portsmouth (Reino Unido), Or Graur, os egípcios podem ter personificado a galáxia como a deusa do céu.
Na mitologia egípcia, Nut é uma mulher com estrelas pelo corpo, arqueada sobre o irmão, Geb, o deus da Terra. Seu trabalho é proteger o planeta de ser inundado pelas águas do vazio do espaço e ela também atua no ciclo solar, engolindo o Sol ao entardecer e dando à luz no início do dia seguinte.
Baseando-se em descrições de papiros antigos, no Livro de Nut e em outras publicações, Graur acredita que a figura de Nut representava a Via Láctea para os antigos egípcios. Ele comparou as informações encontradas nos textos com simulações astronômicas e afirma ter achado coincidências entre ambas.
Usando a tecnologia para modelar como a galáxia aparecia no céu do antigo Egito e as mudanças na sua aparência, o astrofísico observou que a Via Láctea parece fazer o traçado dos braços estendidos de Nut no inverno. Já no verão, segue a espinha dorsal da deusa do céu, movendo-se de leste para oeste.
As representações da deusa com os braços estendidos em determinados ângulos, nos textos antigos, coincidem com os movimentos da galáxia nas simulações. Isso pode indicar a relação simbólica entre ambas. Mas, o autor ressalva, "não acredito que a Via Láctea seja Nut, isto é, uma manifestação dela. Em vez disso, penso que a Via Láctea ajudou os antigos egípcios a verem Nut cumprindo sua função celestial."
No trabalho, o astrofísico também citou as interpretações da Via Láctea em outras culturas. Nas Américas do Norte e Central, ela era vista como uma estrada para as almas após a morte, enquanto bálticos e finlandeses a tinham como um guia para os pássaros.
“Minha pesquisa mostra como a combinação de disciplinas pode oferecer novos insights sobre crenças antigas e destaca como a astronomia conecta a humanidade entre culturas, geografia e tempo”, observou Graur. Ele agora quer realizar um estudo mais amplo sobre a mitologia da nossa galáxia em outras culturas.