Ciência
25/08/2024 às 18:00•2 min de leituraAtualizado em 25/08/2024 às 18:00
As bananas podem estar com os dias contados. Segundo pesquisadores, um fungo patogênico está causando uma doença chamada fusarium wilt of banana, ou mal-do-Panamá, que pode exterminar um tipo muito conhecido dessa fruta.
A fusarium wilt of banana é uma doença vascular que acomete as bananeiras por conta do fungo Fusarium oxysporum f. sp. cubense (de forma abreviada, ele é chamado de Foc TR4). Quando uma árvore é contaminada, os frutos murcham, secam e deixam de crescer. Por fim, a bananeira acaba morrendo.
Não é a primeira vez que as bananas ficam sob ameaça. Nos anos 1950, um tipo muito popular de banana, chamada Gros Michel, foi extinta devido aos fungos. Era o tipo favorito entre os americanos, e acabou sendo substituída nos anos 1960 pela Cavendish, que é hoje a mais consumida no mundo.
Só que agora a própria Cavendish está ameaçada pelo Foc TR4. “Como um complexo de espécies, Fusarium oxysporum pode infectar mais de 100 hospedeiros vegetais diferentes”, afirmou Li-Jun Ma, bióloga molecular da Universidade de Massachusetts Amherst, à Popular Science.
Depois que esse fungo chega em um terreno com bananeiras, é quase impossível exterminá-lo. Isso acontece por conta do seu genoma, que se modifica de várias maneiras. "Cada genoma de Fusarium oxysporum pode ser dividido em duas partes: um genoma central e um genoma acessório. O genoma central faz todas as principais funções de manutenção do genoma. Um genoma acessório fica então livre para variar de cepa para cepa e pode lidar com funções especializadas, incluindo a capacidade de infectar uma planta específica", explica Li-Jun Ma.
A equipe de Li-Jun Ma tem estudado o genoma do Foc TR4, e acredita que há esperanças para combater o novo surto de murcha da banana Cavendish. Em seus estudos, os pesquisadores descobriram que esse fungo não é derivado do mesmo patógeno que dizimou as plantações nos anos 50.
"Agora sabemos que o patógeno destruidor de bananas Cavendish não evoluiu da raça que dizimou as bananas Gros Michel. O genoma do TR4 contém alguns genes acessórios que estão ligados à produção de óxido nítrico, que parece ser o fator-chave na virulência do TR4", explicou Li-Jun Ma em comunicado à imprensa.
A pesquisa envolve cientistas de instituições nos Estados Unidos, China e África do Sul, e que sequenciaram e compararam 36 diferentes cepas de Foc TR4 de todo o mundo. “Como esperado, encontramos sequências acessórias no genoma TR4 que contribuem para sua virulência, incluindo a produção do gás nocivo, óxido nítrico, que facilita a invasão do hospedeiro”, afirma a bióloga.
Agora, eles estudam a relação desse gás com a infestação de doenças na banana Cavendish. Mas já observaram que a virulência do Foc TR4 é reduzida quando os dois genes que controlam a produção de óxido nítrico são eliminados. “A identificação dessas sequências genéticas acessórias abre muitos caminhos estratégicos para mitigar, ou mesmo controlar, a disseminação do Foc TR4”, postulou o pesquisador Yong Zhang, que também participa do estudo.
Os cientistas ressaltam ainda um aspecto que ajuda a evitar tanto essa praga quanto outras: o combate à monocultura, que é o plantio de uma única espécie. “Cultivar uma única espécie de qualquer safra, também chamada de produção agrícola de monocultura, fornece um ambiente propício para o desenvolvimento de patógenos”, diz Li-Jun Ma.
Portanto, algo que podemos fazer é continuar estimulando a produção a partir do consumo de vários tipos de banana. "Para ajudar a aumentar a demanda por bananas diversas no mercado, podemos intencionalmente escolher diferentes variedades de bananas da prateleira. Podemos apoiar produtores locais comprando localmente", conclui.