Ciência
11/06/2024 às 14:00•2 min de leituraAtualizado em 11/06/2024 às 14:00
A possibilidade de colonizar Marte tem fascinado a humanidade por décadas, e as questões sobre como sustentar a vida nesse ambiente inóspito continuam a desafiar cientistas ao redor do mundo. Rebeca Gonçalves, uma astrobióloga brasileira, está na vanguarda dessas pesquisas, e utilizou uma técnica agrícola milenar desenvolvida pelos maias para cultivar alimentos no solo marciano.
Para o desafio de cultivar alimentos em Marte usando recursos limitados, Gonçalves adotou a técnica de policultura, ou consorciação, utilizada pelos maias, onde diferentes plantas são cultivadas juntas para maximizar a eficiência do solo. Essa abordagem milenar, que combina plantas com características complementares, mostrou-se promissora para o cultivo no planeta vermelho. A consorciação, além de aumentar a produtividade, pode melhorar a resistência das plantas às adversidades ambientais, um fator crucial para a agricultura em Marte, onde os recursos são escassos e as condições são extremas.
A escolha das plantas foi um passo crítico no projeto; após meses de pesquisa, ela selecionou cenouras, ervilhas e tomates-cereja, cada uma escolhida por suas características únicas. As ervilhas, capazes de fixar nitrogênio no solo, atuam como fertilizantes naturais. Os tomates-cereja fornecem suporte e sombra para as outras plantas, enquanto as cenouras ajudam a arejar o solo com suas raízes. Essa combinação não apenas utiliza eficientemente o espaço, mas também promove um ambiente de crescimento saudável para cada espécie.
Para que o experimento fosse relevante, era essencial usar um solo similar ao marciano. Com a ajuda da NASA, Gonçalves utilizou um regolito marciano sintético, criado a partir de materiais do Havaí e do deserto de Mojave. Esse solo artificial, composto por 97% de elementos presentes em Marte, não contém nutrientes ou matéria orgânica, apresentando um desafio significativo para o crescimento das plantas. No entanto, os resultados foram promissores, especialmente para os tomates-cereja, que produziram o dobro de frutos quando cultivados em consorciação.
Embora as ervilhas tenham apresentado um crescimento similar tanto em consorciação quanto isoladas, e as cenouras tenham se desenvolvido melhor em monocultura, os tomates-cereja se destacaram, demonstrando que a técnica pode ser eficaz. Esses resultados fornecem uma base sólida para futuras pesquisas e ajustes, como a modificação dos nutrientes ou a escolha de outras espécies para otimizar a produtividade.
Para as futuras colônias em Marte, a capacidade de cultivar alimentos localmente é crucial não apenas para a subsistência, mas também para a saúde dos colonos. Alimentos frescos fornecem nutrientes essenciais perdidos em alimentos desidratados. Gonçalves prevê que, após a fase inicial de dependência de suprimentos externos, as colônias marcianas poderão se tornar autossustentáveis, utilizando resíduos orgânicos como fertilizantes. Esse cenário não apenas remete a ficções científicas, mas também se baseia em pesquisas robustas e práticas agrícolas comprovadas.