Estilo de vida
07/11/2024 às 09:00•3 min de leituraAtualizado em 07/11/2024 às 09:00
Trabalhando sob o solo próximo à histórica Muralha de Adriano, na Inglaterra, arqueólogos desenterraram uma cabeça esculpida de uma figura feminina, possivelmente uma imperatriz ou deusa, que teria habitado o imaginário romano há cerca de 1.800 anos. A descoberta aconteceu no sítio arqueológico de Carlisle, um antigo forte romano localizado ao lado do que é hoje o Carlisle Cricket Club.
Dirigida pelo arqueólogo Frank Giecco, a equipe de escavação acumulou mais de 5 mil achados no local desde o início dos trabalhos em 2021, incluindo joias, moedas e agora a cabeça de uma estátua esculpida que vem intrigando estudiosos e curiosos.
Entre as especulações sobre a identidade da figura representada, uma das teorias mais populares é a de que a escultura seria um retrato de Julia Domna, uma imperatriz famosa no século III d.C. pelo seu icônico estilo de cabelo e cocares ornamentados. Julia, esposa do imperador Septímio Severo, era uma figura influente, e suas preferências de moda foram amplamente copiadas.
O cocar esculpido nesta cabeça sugere a importância da figura retratada, reforçando a teoria de que poderia mesmo se tratar de Julia. Entretanto, outros especialistas não descartam a possibilidade de que seja a representação de uma deusa, uma prática comum na escultura romana destinada a adornar locais de culto e espaços públicos.
Além da cabeça esculpida, a equipe também encontrou uma joia rara representando Silvano, o deus romano das florestas e campos. A peça é uma gema entalhada, conhecida como uma cornalina, que brilha em tons dourados. Segundo especialistas em arte romana, o trabalho artístico dessa peça é impressionante e atribuído a uma oficina de gemas em Carlisle, ativa no início do século III d.C.
A imagem de Silvano que aparece na joia se destaca pela sua representação incomum: ao invés de ser retratado como um caçador, o deus aparece mais como um lenhador, segurando um galho e uma foice, com um cachorro ao seu lado – uma descrição que sugere uma visão local do deus, possivelmente adaptada à região da Grã-Bretanha romana.
A escavação em Carlisle tem sido uma fonte de descobertas que vão muito além de simples ruínas. No mesmo sítio, há indícios de uma complexa casa de banhos que servia não apenas para a higiene pessoal dos romanos, mas também como centro social e religioso. Peças de cerâmica, incluindo representações de Cupido e Vênus, foram descobertas, sugerindo o gosto dos romanos por arte e mitologia em seus espaços de convívio.
Além disso, foi recentemente desenterrada uma amostra rara de Tyrian Purple, um pigmento outrora mais valioso que o ouro, usado apenas pela elite romana. Esse pigmento era produzido a partir de um molusco específico, e seu processo de fabricação era trabalhoso e caro, o que torna essa descoberta um dos achados mais significativos do local.
Entre os achados está um anel com a imagem de um rato mordiscando uma semente de papoula, minuciosamente entalhada, revelando o talento artístico e o simbolismo romano. A papoula, associada ao sono na mitologia, sugere que o anel tinha ligação com descanso e sonhos, refletindo o lado pessoal e supersticioso da sociedade romana.
As descobertas em Carlisle incluem uma estrutura quadrada enigmática, possivelmente parte de um mausoléu ou espaço ritual, cuja função ainda é incerta, segundo os arqueólogos. Moedas e peças de jogos também foram achadas, indicando que o forte ia além da função militar, sendo também um espaço de lazer e convivência.
O sítio de Carlisle continua a revelar fragmentos da vida romana na Grã-Bretanha, refletindo as influências culturais e sociais do império. Para os arqueólogos, cada descoberta traz entusiasmo e uma chance valiosa de compreender melhor a complexidade do domínio romano na região.