Ciência
23/10/2024 às 03:00•2 min de leituraAtualizado em 23/10/2024 às 03:00
Imagine o campo magnético da Terra, nosso escudo protetor contra a radiação espacial, virando de cabeça para baixo. Pois é, isso aconteceu há mais de 40 mil anos e, agora, cientistas conseguiram transformar essa bagunça em som. A partir de dados coletados pelos satélites Swarm, da Agência Espacial Europeia (ESA), pesquisadores europeus criaram uma trilha sonora estranha e apavorante, usando sons naturais como estalos e batidas de rochas para representar o caos desse período.
Essa sonoridade esquisita foi montada pela Universidade Técnica da Dinamarca e o Centro Alemão de Pesquisas em Geociências, com o objetivo de simular o evento Laschamps – um momento em que o campo magnético ficou tão fraco que deixou a Terra vulnerável aos raios cósmicos. O resultado? Uma verdadeira experiência de arrepiar, mostrando que, quando a natureza resolve "falar", ela sabe como dar um susto.
O campo magnético da Terra funciona como uma barreira invisível, formada pelos metais líquidos que se movem no núcleo do planeta, afastando radiação solar e outras ameaças. Mas, a cada tanto, esse protetor tem seus surtos e decide inverter a polaridade, o que significa que o norte e o sul trocam de lugar.
O último grande surto desse tipo foi há 41 mil anos, conhecido como evento Laschamps, e deixou marcas de lava em Laschamps, na França. Durante essa fase, a força do campo magnético caiu para apenas 5% do normal, e a exposição aos raios cósmicos aumentou. Isso pode ter contribuído para mudanças climáticas drásticas e até ter afetado a vida pré-histórica.
Além disso, evidências isotópicas em gelo e sedimentos sugerem que houve um aumento na quantidade de berílio-10 — um isótopo radioativo de berílio — na atmosfera, formado pela interação dos raios cósmicos. O cenário parece ter sido de confusão tanto para os seres vivos quanto para o clima.
Apesar de o evento Laschamps ter ocorrido milhares de anos atrás, ele continua sendo relevante. Atualmente, anomalias no campo magnético, como o enfraquecimento na região do Atlântico Sul, levantam questões sobre a possibilidade de uma nova inversão. Pesquisas indicam que esses fenômenos não necessariamente anunciam uma nova virada, mas ainda representam um risco significativo para os satélites expostos à radiação.
A missão Swarm da ESA, que monitora sinais magnéticos desde 2013, tem nos ajudado a entender melhor o comportamento do campo geomagnético e suas flutuações. Embora ainda haja muito o que descobrir, o passado magnético do planeta mostra que o imprevisível faz parte da história da Terra.
Seja como for, uma coisa é certa: o campo magnético da Terra sempre encontrará uma forma de nos surpreender – seja invertendo sua polaridade ou virando trilha sonora de um pesadelo geológico.