Estilo de vida
07/03/2024 às 08:00•2 min de leituraAtualizado em 07/03/2024 às 08:00
Quando ouvimos a palavra "múmia", a primeira imagem que temos em mente certamente é a dos restos mortais enfaixados de faraós no Egito Antigo há muito tempo preservados. Porém, apesar dessa fama, os exemplares egípcios não são as múmias mais antigas do mundo.
Esse título vai para o povo chinchorro, do deserto chileno do Atacama, que mumificou seus mortos há 7 mil anos. Essa antiga cultura de caçadores-coletores marinhos foi a primeira a se estabelecer no norte do Chile e no sul do Peru, por volta de 5450 a.C. Logo após a sua chegada, os chinchorros iniciaram uma nova prática funerária de preservar seus mortos nas areias secas do deserto que os cercava.
Os antigos cemitérios Chinchorro agora estão inscritos na Lista do Patrimônio Mundial da UNESCO pelo seu valor arqueológico, pois não só fornecem informações sobre essa estranha forma de mumificação, mas também como funcionavam essas comunidades como estruturas sociais e de forma espiritual.
É importante ressaltar que, ao contrário dos egípcios que reservavam a mumificação para a sua elite social, os chinchorros a ofereciam como um ritual para todos. E como eles mumificavam seus mortos? Para isso, o processo foi um tanto quanto diferente daquele visto no Egito. Primeiro, o corpo seria despojado de sua pele e seus órgãos seriam removidos.
Assim que as cavidades do corpo estivessem secas, a pele seria costurada novamente. Às vezes, os corpos também eram embrulhados em materiais elaborados, como junco, pele de leão-marinho e lã de alpaca. Depois, os rostos eram cobertos de barro, onde era então colocada uma máscara que tinha aberturas para os olhos e a boca. Por fim, as múmias recebiam perucas feitas de cabelo humano antes de serem enterradas no deserto, na esperança de que as condições áridas as preservassem para sempre.
A primeira múmia chinchorro foi documentada em 1917 pelo arqueólogo alemão Max Uhle, que descobriu alguns corpos numa praia. É evidente que esses espécimes eram antigos, mas não foi possível datá-los com precisão naquela época. Então, com o desenvolvimento das técnicas de datação por radiocarbono, foi possível datar as múmias com mais de 7 mil anos.
Desde a primeira descoberta, há mais de 100 anos, centenas de outras múmias foram encontradas na região. Algumas delas foram encontradas durante obras ou desenterradas por animais curiosos. As comunidades que vivem em Arica, no norte do Chile, conhecem há muito tempo esses restos mortais especiais — principalmente porque os corpos estão próximos da superfície.
Infelizmente, devido às alterações climáticas, muitas das sepulturas dos Chinchorros estão sendo desenterradas por eventos climáticos anormais, o que expõe os corpos aos elementos da natureza. Isso terá sérios impactos na sua conservação no futuro, à medida que os arqueólogos lutam para financiar esforços para recuperá-los e preservá-los.
Em 2022, um novo museu climatizado perto de Arica estava sendo construído para abrigar as múmias chilenas. Espera-se que esta instalação sofisticada, avaliada em cerca de US$ 19 milhões, possa ajudar a proteger estes valiosos artefatos de um passado distante.