Ciência
06/09/2024 às 12:00•2 min de leituraAtualizado em 06/09/2024 às 12:00
O micélio, uma rede subterrânea de filamentos (hifas) que interliga diversos cogumelos, foi usado pela primeira vez para transformar a atividade eletrofisiológica dos fungos em energia cinética para dois dispositivos mecânicos: um robô maleável de cinco membros e um veículo autônomo de quatro rodas, sem fio.
Segundo o estudo, publicado recentemente na revista Science Robotics, a equipe interdisciplinar de pesquisadores da Universidade de Cornell, nos EUA, e da Universidade de Florença, na Itália, testou uma saborosa cultura do cogumelo ostra rei (Pleurotus eryngii), para aproveitar os sinais elétricos próprios do micélio na operação de robôs bio-híbridos.
O líder do projeto, Rob Shepherd, da Cornell, explicou em um comunicado de imprensa que, "Ao cultivar micélio na eletrônica de um robô, fomos capazes de permitir que a máquina bio-híbrida sentisse e respondesse ao ambiente".
Fundir componentes biológicos com máquinas não é uma ideia exatamente nova, pois a evolução vem refinando esse tipo de integração há milhões de anos. Tanto que a rede ramificada e interconectada do micélio dos fungos tem um funcionamento parecido com a rede de neurônios e sinapses do cérebro humano.
Nesse sentido, estudar e replicar os mecanismos biológicos adotados pelo reino Fungi, do qual os cogumelos fazem parte, pode revelar muitos “atalhos” e caminhos mais eficientes para o desenvolvimento da tecnologia cibernética.
De simples manejo, esses fungos são facilmente cultiváveis e, por não fazerem fotossíntese, podem viver em condições difíceis para outros organismos. Suas redes subterrâneas de fios finos interconectados revelam uma espécie de “inteligência” sensível e reativa ao seu ambiente, adaptando-se às mudanças.
Os dois robôs construídos no estudo são operados por uma unidade microcontroladora alimentada por picos de atividade elétrica produzida pela eletrofisiologia extracelular do micélio, e produzidas por um estímulo externo, no caso luz ultravioleta. A produção de energia mediada pelo pequeno computador alterna respostas mecânicas dos dispositivos móveis.
Para o primeiro autor do artigo, Anand Mishra, o projeto não visa apenas controlar robôs. "Trata-se também de criar uma verdadeira conexão com o sistema vivo. Porque uma vez que você ouve o sinal, você também entende o que está acontecendo. Talvez esse sinal esteja vindo de algum tipo de estresse. Então você está vendo a resposta física, porque esses sinais não podemos visualizar, mas o robô está fazendo uma visualização", diz o biorroboticista.
Embora o "robomelo" possa parecer um pouco tosco, futuras versões mais sofisticadas dos seus sistemas poderiam ter aplicações em setores como agricultura, monitoramento ambiental e saúde. Esses sistemas poderiam avaliar, por exemplo, as quantidades exatas de nutrientes ou pesticidas necessárias a um determinado solo, ou reações ao aumento de poluentes.