Ciência
10/07/2024 às 14:00•2 min de leituraAtualizado em 10/07/2024 às 14:00
Há quem acredite que as plantas interagem conosco. Se isso não for verdade, pelo menos sabemos agora que elas são capazes de "conversar" entre si. É isso que foi constatado por um estudo realizado por pesquisadores da Universidade Saitama, no Japão, que foi publicado recentemente na revista especializada Nature Communications.
Os biólogos desenvolveram um mecanismo que conseguiu flagrar o momento em que as plantas soltam compostos químicos quando estão sendo ameaçadas por animais herbívoros, o que é uma forma de passar um recado às plantas vizinhas para que elas possam se proteger dos predadores.
Algumas plantas são capazes de soltar uma névoa fina de compostos químicos, com cheiros que não são perceptíveis por nós, humanos. Esses compostos são capazes de repelir insetos herbívoros que estão prestes a devorá-las. Assim, ao soltar esse odor, as plantas conseguem avisar as outras, de maneira muito inteligente, para que se protejam.
Os cientistas conhecem esse tipo de mecanismo, que já foi detectado em cerca de 80 plantas, pelo menos desde os anos 1980. Mas agora, os pesquisadores da Universidade Saitama conseguiram produzir imagens em tempo real de plantas enquanto exercem esse tipo de comunicação.
Essa descoberta supre uma lacuna na compreensão sobre essa "conversa", pois já se sabia que as plantas enviavam mensagens, mas não se conhecia ainda a forma pela qual elas as recebiam. Os biólogos Yuri Aratani e Takuya Uemura conseguir montar uma espécie de máquina para fazer com que uma planta infestada por insetos transmitisse a mensagem de perigo. Em seguida, eles usaram um microscópio de fluorescência para observar o que acontecia.
O que os pesquisadores fizeram foi o seguinte: eles colocaram lagartas sobre uma planta de tomateiro e a Arabidopsis thaliana, planta da família da mostarda, e capturaram as mensagens enviadas para uma segunda planta da mesma espécie, mas que não estava atacada por esses insetos. As folhas permaneceram dentro de um cilindro que preservava o ar.
Além disso, a primeira planta foi geneticamente modificada para que as suas células tivessem um biossensor capaz de acionar uma fluorescência verde quando um influxo de íons de cálcio era detectado.
Em seguida, a equipe usou uma técnica para medir os sinais de cálcio ocorridos nessa planta ao ser "comunicada" da presença dos predadores. O que eles observaram foi impressionante: as plantas que não foram atacadas por insetos recebiam a mensagem das plantas feridas, já que reagiam por meio de rajadas de sinalização de cálcio que irradiavam em suas folhas.
À medida que as lagartas começavam a comer as plantas, o composto era emitido, soltado duas moléculas conhecidas como Z-3-HAL E-2-HAL. Essas células, conforme eles observaram, desempenhavam uma missão importante: a de abrir e fechar os "estômatos", orifícios pelos quais a planta libera oxigênio e absorve gás carbônico. Deste modo, elas eram capazes de reagir e conseguiam se preservar dos ataques.
De acordo com o biólogo molecular Masatsugu Toyota, principal autor do estudo, a descoberta é muito relevante. "Finalmente desvendamos a intrincada história de quando, onde e como as plantas respondem às 'mensagens de alerta' transmitidas pelo ar por seus vizinhos ameaçados. Essa rede de comunicação etérea, escondida da nossa visão, desempenha um papel fundamental na proteção oportuna de plantas vizinhas contra ameaças iminentes", explicou. Nunca a expressão de "falar com plantas" fez tanto sentido quanto agora.