Artes/cultura
05/04/2024 às 10:00•2 min de leituraAtualizado em 05/04/2024 às 10:00
O movimento de translação da Terra, em que ela gira ao redor do sol e completa uma volta a cada 365 dias, não é totalmente linear — ou seja, a cada 4 anos, incluímos um dia ao mês de fevereiro para evitar que distorções se acumulem e deixem o nosso calendário fora de correspondência com o respectivo período do ano.
Em se tratando do movimento de rotação, que em teoria dura 24 horas, por incrível que pareça, não é tão diferente assim. Pequenas variações ocorrem de tempos em tempos, mas o ajuste se dá de forma mais sutil. Assim, "segundos bissextos" são incluídos ao nosso relógio pontualmente. Ou melhor, isso ocorreu 23 vezes entre 1972 e 1999.
E podem ser vários os motivos que justificam isso, como o movimento das marés, influenciado pela Lua, bem como abalos causados por terremotos de grande escala e até mesmo o movimento que ocorre no núcleo da Terra. Segundo um novo artigo publicado na revista Nature, há um novo motivo para incluir nessa lista: o derretimento das geleiras.
O estudo, publicado no último dia 27, deixa visível que se trata de um impacto adicional das mudanças climáticas. O derretimento do gelo, por si só, representa o risco de que cidades desapareçam devido ao aumento do nível do mar.
Mas ao considerar esse novo aspecto, há algo que nunca havia sido identificado até então: enquanto as geleiras derretem, esse volume se espalha e se desloca para a região equatorial do planeta. Esse processo, no entanto, por ser expressivo, é capaz de desacelerar o movimento de rotação da Terra.
Na prática, isso tornaria o dia um pouco mais longo do que os nossos relógios registram, o que eventualmente exigiria ajustes de tempos em tempos. Por exemplo, o terremoto ocorrido em 2004 na Indonésia, que apresentou escala 9,1, acelerou o movimento de rotação, e com isso, pode-se dizer que uma parte do tempo, ainda que imperceptível, foi "roubada".
Mas neste caso, ocorre o contrário: ao desacelerar o movimento, o derretimento do gelo aumentaria a duração do dia terrestre. Estes são efeitos percebidos em geleiras que fazem parte de territórios da Groenlândia e do continente antártico.
O estudo ainda destaca que o movimento do núcleo da Terra, enquanto desacelera internamente, acaba permitindo que o planeta se mova mais rapidamente — o que tem sido percebido nos últimos anos, vale destacar. Mantida essa aceleração no movimento de rotação terrestre, ela poderia ocasionar a perda de 1 segundo até 2029.
Considerando o dano que as mudanças climáticas representam, 1 segundo não parece ser tão grave. Mas para satélites, por exemplo, como seria ajustar um dia com um segundo a menos de duração? Será que há sistemas preparados para isso?
Por ora, não há previsão de que isso ocorra, já que, ironicamente, esse deslocamento massivo provocado pelo derretimento das geleiras tende a corrigir esse problema de cronometragem global, devolvendo o 1 segundo que perderíamos devido à menor movimentação do núcleo do planeta.
Além disso, apenas em 2026 será avaliada a eventual necessidade de incluir um "segundo bissexto". De toda forma, as complicações associadas ao aquecimento global só se multiplicam e nos forçam a reparar em detalhes que sequer imaginamos.