Artes/cultura
11/07/2024 às 12:00•2 min de leituraAtualizado em 11/07/2024 às 12:00
Diretamente das profundezas do Oceano Ártico, uma descoberta surpreendente agitou a comunidade científica: um campo de fontes hidrotermais foi encontrado na Cordilheira Knipovich, uma cadeia montanhosa submarina anteriormente considerada geologicamente adormecida.
Localizado ao largo da costa de Svalbard, Noruega, e a uma profundidade de mais de 3.000 metros, o Campo Jøtul, como foi batizado, revelou uma paisagem subaquática cheia de vida e atividade geológica intensa, desafiando as expectativas sobre onde a vida pode prosperar.
Os campos hidrotermais, como o Jøtul, são verdadeiros oásis nas profundezas escuras e frias do oceano. Nessas áreas, a atividade vulcânica faz com que o calor escape por meio de rachaduras no fundo do mar, criando um ambiente rico em minerais e perfeito para uma vida única que depende da quimiossíntese, um processo que aproveita reações químicas para obter energia, em vez da luz solar.
No caso do Campo Jøtul, o calor e os minerais são liberados por meio de chaminés conhecidas como "black smokers" ("fumantes negros", em tradução livre), que expelem fluidos aquecidos pelo magma.
A expedição que levou à descoberta do Campo Jøtul foi realizada em 2022, quando cientistas avistaram sinais de atividade hidrotermal na região e decidiram investigar mais a fundo com um veículo submersível operado remotamente, o MARUM-QUEST.
Descendo mais de 3 quilômetros até o fundo do mar, o submersível captou imagens e coletou amostras, revelando uma extensa área com fontes hidrotermais ativas e extintas. Uma das estruturas mais impressionantes encontradas foi a abertura Yggdrasil, nomeada em homenagem à árvore cósmica da mitologia nórdica, simbolizando a interconexão entre os diferentes reinos.
A importância dessa descoberta vai além da simples curiosidade científica. Os campos hidrotermais desempenham um papel crucial nos ciclos geoquímicos da Terra e na sustentação de ecossistemas diversos. Eles também oferecem insights sobre a química dos oceanos e como os elementos são distribuídos pelas águas.
O Campo Jøtul, por exemplo, apresenta altas concentrações de metano, um gás que, ao ser transformado em CO2, contribui para a acidificação dos oceanos e, possivelmente, para o efeito estufa quando atinge a atmosfera.
Além do seu impacto nos estudos climáticos, a descoberta do Campo Jøtul ajuda a preencher lacunas no mapa hidrotermal do Ártico. Ele estabelece uma conexão crucial entre os sistemas hidrotermais ativos conhecidos na região, como o Castelo de Loki e o campo Aurora, expandindo nossa compreensão sobre a distribuição das comunidades faunísticas que dependem da quimiossíntese.
Esses ecossistemas, que florescem na completa ausência de luz solar, são formados por organismos adaptados a condições extremas, oferecendo um vislumbre de como a vida pode existir em outros planetas ou luas com ambientes similares.
A descoberta do Campo Jøtul só foi possível graças aos avanços na tecnologia de exploração subaquática. Veículos operados remotamente e autônomos, equipados com câmeras de alta definição e sensores sofisticados, permitem que os cientistas explorem regiões anteriormente inacessíveis, coletando dados em tempo real e amostras para análise imediata.
Esses progressos tecnológicos estão revolucionando a ciência marinha, proporcionando novas oportunidades para entender as profundezas do oceano.
No próximo verão, uma nova expedição liderada pelo Professor Gerhard Bohrmann, da Universidade de Bremen, está programada para continuar a exploração do Campo Jøtul.
Os pesquisadores esperam mapear áreas desconhecidas e comparar suas descobertas com outros campos hidrotermais no Ártico, aprofundando nosso conhecimento sobre esses fascinantes ecossistemas submarinos.
Certamente, o Campo Jøtul continuará sendo um ponto focal para futuras pesquisas, ajudando a desvendar os segredos escondidos nas profundezas do nosso planeta.