Artes/cultura
25/10/2024 às 15:00•2 min de leituraAtualizado em 25/10/2024 às 15:00
Sabemos que o corpo humano precisa de oxigênio para funcionar, e em altitudes elevadas, onde o ar é rarefeito, isso se torna um grande desafio. Alpinistas enfrentam mal-estar e doenças quando escalam montanhas, pois o ar fino compromete o transporte de oxigênio pelo sangue. No entanto, comunidades no Planalto Tibetano, que vivem a mais de 3.500 metros acima do nível do mar, parecem desafiar essas limitações e prosperam onde a maioria teria dificuldades.
Por mais de 10 mil anos, os tibetanos têm se adaptado ao ambiente extremo, desenvolvendo características fisiológicas únicas que os ajudam a lidar com a falta de oxigênio. A evolução não parou — ela está acontecendo agora, e cientistas estão estudando esses casos para entender como o corpo humano se ajusta a condições tão desafiadoras.
A antropóloga Cynthia Beall, da Case Western Reserve University, tem estudado as adaptações dos tibetanos à hipóxia, ou seja, à falta de oxigênio em grandes altitudes. Em vez de sofrerem com o ar rarefeito, como ocorre com a maioria das pessoas, os tibetanos desenvolveram uma maneira eficiente de transportar oxigênio pelo corpo sem sobrecarregar o coração. Isso porque, diferentemente de outros grupos em altas altitudes, eles não apresentam níveis excessivamente altos de hemoglobina, a proteína responsável por transportar oxigênio no sangue.
Níveis muito altos de hemoglobina poderiam espessar o sangue e exigir mais do coração, mas os tibetanos possuem uma quantidade intermediária dessa proteína, o que evita esse problema. Além disso, o que realmente faz a diferença é a alta saturação de oxigênio no sangue dessas pessoas, o que permite que mesmo uma menor quantidade de oxigênio no ar seja usada de forma eficaz para abastecer os órgãos e tecidos do corpo.
Esse equilíbrio é crucial para a sobrevivência e, mais importante, para o sucesso reprodutivo. Mulheres tibetanas com valores ideais de hemoglobina e alta saturação de oxigênio tendem a ter mais filhos, perpetuando essas características vantajosas para as futuras gerações.
Outro fator interessante observado por Beall e sua equipe é que as mulheres com maior sucesso reprodutivo possuem ventrículos maiores no coração, o que aumenta a capacidade de bombear sangue oxigenado para o corpo. Isso significa que o corpo delas está ainda mais adaptado para funcionar em altitudes elevadas, garantindo uma maior eficiência no transporte de oxigênio.
Apesar de fatores culturais, como o início precoce da reprodução e casamentos longos, influírem no número de filhos, os traços físicos são determinantes. Beall afirma que "essa é uma evidência clara de seleção natural em andamento", mostrando como essas adaptações estão sendo passadas de uma geração para a outra.
Entender como essas populações se ajustam a ambientes extremos não apenas revela o processo contínuo de evolução humana, mas também nos ajuda a compreender os limites e as capacidades do corpo humano diante de desafios ambientais únicos. A evolução, ao que parece, está longe de ser coisa do passado.