Genoma europeu: tumba de 4,5 mil anos revela dados da ancestralidade europeia

12/07/2024 às 08:002 min de leituraAtualizado em 12/07/2024 às 08:00

Uma descoberta fascinante em uma tumba coletiva de 4,5 mil anos em Bréviandes-les-Pointes, na França, revelou segredos genéticos que ainda ressoam nos europeus modernos. Estudos de DNA antigo dos sete indivíduos enterrados lá mostraram como migrações e misturas populacionais moldaram o genoma europeu, oferecendo um vislumbre raro e detalhado do passado.

O genoma humano, que carrega toda a nossa informação genética, é como um livro de história dos nossos ancestrais. O genoma europeu, em particular, foi formado ao longo de mais de 40 mil anos por meio de diversas migrações e cruzamentos de populações

Originalmente, a Europa era habitada por caçadores-coletores até que, cerca de 8 mil anos atrás, agricultores da Anatólia e do Egeu chegaram e começaram a interagir com os habitantes locais e, por consequência, misturando-se. Esta primeira grande combinação ajudou a moldar a base genética dos europeus atuais.

Mas o que realmente mudou o jogo foi a chegada dos nômades das estepes pôntico-cáspias, ao norte do Mar Negro, cerca de 5 mil a 4 mil anos atrás. Esses nômades trouxeram consigo novas tecnologias e práticas culturais, como a roda e as línguas indo-europeias, e se misturaram com as populações neolíticas locais. Essa interação crucial é uma peça-chave na composição genética de muitos europeus hoje.

Análise de DNA

Túmulo coletivo trouxe indícios importantes sobre a história genética dos europeus. (Fonte: Inrap, Live Science/ Divulgação)
Túmulo coletivo trouxe informações importantes sobre a história genética dos europeus. (Fonte: Inrap, Live Science / Divulgação)

Analisar o DNA antigo é uma tarefa complexa, pois os fragmentos são pequenos e deteriorados. No entanto, uma equipe de pesquisadores do Institut Jacques Monod desenvolveu técnicas avançadas para obter resultados precisos. 

Eles sequenciaram o DNA das sete pessoas achadas na tumba de Bréviandes e combinaram isso com estudos de morfologia óssea feitos por especialistas do Instituto Nacional de Pesquisa Arqueológica Preventiva (Inrap, na sigla em francês).

Os resultados foram surpreendentes: a tumba continha uma mulher idosa, seu filho adulto, seu neto, a mãe do neto, uma jovem mulher, o recém-nascido dessa jovem e uma criança pequena. Curiosamente, nem todos eram parentes entre si. 

As mulheres apresentavam um componente genético típico do sul da França e sudoeste da Europa, sugerindo uma origem comum fora da área da tumba. O homem adulto, porém, tinha uma mistura do genoma neolítico de sua mãe e do genoma dos nômades das estepes de seu pai.

Essa descoberta ofereceu uma visão quase "em tempo real" da introdução do DNA das estepes na população neolítica local. Os pesquisadores conseguiram até mesmo reconstruir parte do genoma do pai ausente do homem adulto, indicando sua origem no noroeste da Europa. Isso evidencia um encontro entre populações migrantes das estepes e as locais, que ocorria em toda a Europa durante esse período.

Cruzamento genético

Estudo mapeou os ossos do túmulo e trouxe descobertas importantes. (Fonte: Inrap/ Divulgação)
Ossos encontrados em túmulo familiar ajudam a entendermos os cruzamentos do genoma europeu. (Fonte: Inrap / Divulgação)

Análises de genomas antigos de outras regiões europeias mostraram que houve duas grandes ondas de cruzamentos. 

A primeira, cerca de 4,9 mil anos atrás, envolveu nômades das estepes e fazendeiros neolíticos da cultura da ânfora globular. Essa mistura deu origem à cultura "corded ware", caracterizada por vasos de barro impressos com cordões antes da queima. A segunda onda ocorreu cerca de 4.550 anos atrás na Europa Ocidental, envolvendo novamente cruzamentos entre homens das estepes e mulheres locais.

Além da tumba de Bréviandes, o estudo também analisou o sepultamento de um homem adulto em Saint-Martin-la-Garenne, identificado como pertencente à Cultura do Vaso Campaniforme por ele estar com um adorno no pulso característico desse fenômeno. 

Ele apresentava uma alta porcentagem de ancestralidade das estepes, sugerindo redes matrimoniais complexas entre diferentes grupos. Isso mostra como as interações e misturas genéticas foram fundamentais para a formação do genoma europeu.

Desse modo, a tumba de Bréviandes não só oferece um vislumbre das complexas redes de relações e migrações, mas também destaca como essas interações moldaram a Europa que conhecemos hoje.

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