Artes/cultura
30/10/2024 às 15:00•2 min de leituraAtualizado em 30/10/2024 às 15:00
No final de 2023, um artigo publicado na revista científica Archaeological Prospection incendiou o mundo da arqueologia. Nele, o geólogo indonésio Danny Hilman Natawidjaja e sua equipe afirmam que o sítio arqueológico Gunung Padang seria uma pirâmide construída em etapas por uma antiga civilização perdida, há pelo menos 9 mil anos, com partes da estrutura chegando a 25 mil anos.
Mesmo recheada de evidências, como análises geológicas, datação por radiocarbono e interpretações sobre a organização artificial das formações rochosas, o trabalho foi “torpedeado” por um time de arqueólogos e geólogos, questionando a metodologia, a interpretação dos dados e até mesmo as datações. A comunidade argumenta que o local tem, no máximo, elementos cerimoniais, construído por homens desde o neolítico.
Embora o estudo tenha bombado nas mídias, talvez mais pelo “barraco” do que pelas afirmações, a revista decidiu, em março de 2024, retirar o artigo, alegando "preocupações levantadas por terceiros com experiência em geofísica, arqueologia e datação por radiocarbono".
Quem vê Gunung Padang de longe, jura que a "montanha da iluminação" (significado da palavra em indonésio) é mesmo uma pirâmide coberta por vegetação. Mas, quando chegamos perto, temos certeza. Afinal, o topo da colina é dividido em cinco terraços principais, com 30 metros de altura e 100 metros de comprimento.
Além disso, há provas de que a estrutura megalítica, com centenas de rochas vulcânicas em forma de pilares, foi frequentada por humanos durante milhares de anos. Cerâmicas encontradas no local pelo Centro Nacional de Pesquisa Arqueológica da Indonésia e pelo Centro Arqueológico de Bandung foram datadas de 45 a.C. a 22 d.C.
Mas parecer é uma coisa e ser é outra. Evidências de que humanos antigos usaram o topo da colina durante milênios não prova que o local inteiro foi esculpido artesanalmente por uma civilização "avançada".
No estudo original, retirado pela Archaeological Prospection, a equipe de Natawidjaja afirmava com orgulho que "Essa descoberta desafia a crença convencional de que a civilização humana e o desenvolvimento de técnicas avançadas de construção surgiram apenas durante o período quente do início do Holoceno ou início do Neolítico".
Além disso, garantiram que suas varreduras indicaram a presença de "câmaras escondidas" dentro da elevação. Mas o grande problema com a pesquisa, não identificado na revisão por pares, foi a datação das amostras de solo, que eram falsamente apresentadas no artigo como artefatos humanos.
O principal revisor do artigo foi o escritor britânico Graham Hancock, conhecido por seus livros controversos sobre civilizações antigas e teorias alternativas sobre a história humana, como As digitais dos deuses (1995), Deus da guerra: as noites da bruxa (2013), entre outros.