Índia pretende conectar rios do país com megaprojeto hídrico

12/07/2024 às 18:002 min de leituraAtualizado em 12/07/2024 às 18:00

A Índia deve dar início a um mega projeto de engenharia para conectar vários dos seus rios. A obra já vem sendo discutida há mais de um século e irá ligar as bacias hídricas que vem do Himalaia, ao norte do país, e deságuam a oeste no Mar Arábico e a leste no Golfo de Bengala.

O projeto visa uma melhor distribuição das águas no subcontinente, que sofre com secas em determinadas épocas do ano. Porém, alguns especialistas têm demonstrado bastante preocupação com a movimentação de uma quantidade tão grande de água.

Projeto gigantesco

(Fonte: GettyImages)
Primeira etapa irá conectar os rios Ken e Betwa. (Fonte: Getty Images)

A ideia de ligar os rios indianos não é nova, remontando ao século 19. O apoio político ao projeto variou ao longo dos anos, mas em 2012, o Supremo Tribunal da Índia ordenou que o governo iniciasse o trabalho. Em 2014, o projeto ganhou novo impulso com o apoio do primeiro-ministro Narendra Modi.

O Projeto Nacional de Ligação Fluvial da Índia visa realizar 30 ligações de rios, transferindo cerca de 200 bilhões de metros cúbicos de água anualmente (como comparação, a vazão média anual das Cataratas do Iguaçu é de aproximadamente 157 bilhões de metros cúbicos de água), com um custo estimado de 168 bilhões de dólares. Este ambicioso projeto tem como objetivo irrigar dezenas de milhões de hectares de terras agrícolas e aumentar a produção de energia hidrelétrica no país.

O governo indiano priorizou o projeto, com autorizações já concedidas para a primeira ligação entre os rios Ken e Betwa, e a construção deve começar em breve, segundo Bhopal Singh, diretor-geral da agência de águas da Índia. No entanto, a construção da primeira ligação de 220 quilômetros, entre Ken e Betwa, ainda deve levar vários anos.

Problemas ambientais

O rio Ganges também fará parte do projeto. (Fonte: GettyImages)
O rio Ganges também fará parte do projeto. (Fonte: Getty Images)

Himanshu Thakkar, da ONG Rede do Sul da Ásia sobre Barragens, Rios e Pessoas, preocupa-se com a falta de transparência do projeto e que dados hidrológicos não foram revisados de forma confiável. Ele argumenta que decisões sobre recursos hídricos precisam ser democráticas e informadas, o que não está acontecendo.

Além dos impactos nas chuvas, o projeto pode criar outros problemas como submergir grandes áreas de uma reserva de tigres e matar cerca de 2 milhões de árvores. Para evitar esses e outros problemas, especialistas sugerem medidas alternativas, como a coleta de águas pluviais, recarga de águas subterrâneas e diversificação de culturas, que podem abordar questões relacionadas à água de forma mais econômica e menos ambiciosa.

Além disso, cientistas e especialistas em política hídrica expressam preocupações sobre as bases científicas do projeto e suas potenciais consequências não intencionais. Estudos recentes sugerem que o projeto pode afetar negativamente a época das monções na Índia, reduzindo a precipitação em algumas áreas e aumentando em outras, o que pode agravar o estresse hídrico.

Tejasvi Chauhan, do Instituto Max Planck de Biogeoquímica, destaca que a precipitação reciclada, responsável por um quarto da chuva durante as monções, pode ser impactada pelo desvio de grandes quantidades de água. O projeto pressupõe que bacias hidrográficas são sistemas independentes, mas, na realidade, elas estão interconectadas e mudanças em uma podem afetar as outras.

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