Artes/cultura
20/06/2024 às 14:00•2 min de leituraAtualizado em 20/06/2024 às 14:00
O estudo sobre os neandertais são fundamentais para que nós possamos compreender melhor a nossa própria espécie. Mesmo depois de 40 mil anos desde que foram extinguidos, esses nossos “primos” interagiram com o Homo sapiens em diferentes contextos, períodos e regiões.
Eles também tinham hábitos próprios e eram capazes de se comunicar com extrema eficiência. Porém, apenas isso não significa que sua comunicação era elaborada, complexa ou sofisticada. Teria sido esse o fator decisivo para o declínio e para a extinção dos neandertais?
A capacidade de desenvolver uma linguagem depende de uma série de fatores — biológicos, sociais e ambientais. Embora seja possível afirmar que tanto os humanos quanto os neandertais passaram por esse processo, suas diferenças ainda são um enigma para nós em alguns aspectos. Estudos que buscam mapear a evolução da nossa própria linguagem abordam três questões fundamentais.
Em 2016, uma pesquisa descobriu que nosso cérebro armazena conceitos que atribuímos às palavras em ambos os hemisférios. Além disso, esse armazenamento não é aleatório. Ele é feito por meio de um aglomerado de grupos semânticos com conceitos semelhantes. E esse fator foi, possivelmente, um dos aspectos que nos diferenciou dos neandertais.
A segunda questão envolve o surgimento da nossa capacidade de compreender sons icônicos — aqueles que associamos a conceitos — ao longo da nossa evolução. Sabe-se que isso aconteceu em algum momento entre a separação do humano e dos macacos. Essa compreensão foi importante, porque ela permitiu que nós nos comunicássemos de maneira cada vez mais complexa — diferente de outras espécies para as quais um som representa apenas uma coisa.
Finalmente, estudos sobre a comunicação já revelaram que a sintaxe é uma capacidade que pode surgir espontaneamente. A sintaxe é a compreensão estrutural de uma frase e como cada palavra (ou som) é ordenado de maneira a fazer algum sentido. Isso é um indício de que no passado, tanto humanos quanto neandertais desenvolveram essa capacidade.
O nosso atual conhecimento sobre os neandertais já nos possibilita entender que a sua comunicação era significativamente diferente da nossa. Juntando peças de diferentes estudos — da genética molecular à biologia comportamental —, já se sabe que humanos e neandertais tinham capacidade equivalente para sons icônicos e sintaxe.
A diferença ficou por conta da maneira como o cérebro de cada espécie evoluiu. O nosso desenvolveu sua forma esférica com redes neurais conectando palavras isoladas com o que eram os aglomerados de grupos semânticos. Isso nos permitiu desenvolver uma comunicação complexa, criando metáforas e desenvolvendo ideias que os neandertais possivelmente nunca conseguiram.
Embora fossem capazes de se expressar, a linguagem dos neandertais provavelmente estaria mais próxima a de outros animais. Eles eram capazes de falar sobre o que viam e organizar ideias sobre algo que aconteceu. Mas é pouco provável que conseguissem conceitos abstratos, algo que foi fundamental para a nossa evolução.