Artes/cultura
04/11/2024 às 03:00•2 min de leituraAtualizado em 04/11/2024 às 03:00
Mar mais famoso do mundo, o Mediterrâneo tem ligações com outros mares (o Negro pelo Estreito de Bósforo e o Vermelho pelo Canal de Suez), além da conexão com o Oceano Atlântico pelo icônico Estreito de Gibraltar. Mas houve um tempo, entre 5,96 e 5,33 milhões de anos atrás, que o “mar entre Terras” (tradução do seu nome do latim) foi um mar interno.
Nesse período, conhecido como Crise de Salinidade do Messiniano, o Mediterrâneo ficou totalmente isolado do Atlântico em virtude de um fechamento do estreito de Gibraltar, causado por atividades tectônicas e variações do nível mar. Nessa época, o Mediterrâneo se tornou uma bacia salgada por cerca de 500 mil anos.
Vestígios da crise de salinidade foram observados pela primeira vez na década de 1970, em uma expedição científica chamada Projeto de Perfuração Profunda dos Oceanos (DSDP na sigla em inglês). Na época, os pesquisadores perfuraram o fundo do Mediterrâneo em vários locais e confirmaram a existência de uma camada de sal de 1,5 km de espessura.
O Estreito de Gibraltar é uma passagem marítima estreita, de apenas 14 km, entre o sul da Espanha e o norte do Marrocos, na África. Ele foi se fechando "em câmera lenta" no final do período Mioceno, à medida que as placas tectônicas africana e eurasiática colidiam e provocavam, de quebra, terremotos, vulcanismo e formação de cadeias montanhas importantes, como os Alpes e os Pireneus.
Um estudo de novembro de 2015 explica que, além do choque das placas, o isolamento do Mediterrâneo ocorreu devido ao declínio no nível global do mar, causado pela expansão da camada de gelo da Antártida, um fenômeno que está começando a se reverter em nossa era.
Uma consequência dessa (rápida) secura é que, naquela época seria teoricamente possível atravessar a pé da cidade de Tânger, na África, para Algeciras na Andaluzia espanhola. Também seria possível ir caminhando da Líbia para a Itália, o que pode ter sido feito por muitos animais, como elefantes, hipopótamos e pequenos roedores, que foram para as ilhas de Maiorca, Menorca, Ibiza e Formentera, na Espanha.
Segundo os pesquisadores que estudaram pela primeira vez, em 2019, a formação de cadeias de montanhas e a tectônica de placas na região do Mediterrâneo, é possível que um evento semelhante ao do Messiniano possa ocorrer futuramente, mas pouco provável.
Isso porque a região do Mediterrâneo é cheia de zonas de falhas esquisitas e fragmentos de placas sobrepostas. “Uma bagunça geológica”, dizem os autores.
Não podemos esquecer que a placa africana continua entrando na eurasiática, o que torna possível a formação, quem sabe, de uma Euráfrica, e permitindo que coloquemos nossas cadeiras de praia bem no fundo do Mediterrâneo. Sal para o churrasco não vai faltar.