Artes/cultura
08/10/2024 às 15:00•2 min de leituraAtualizado em 08/10/2024 às 15:00
Pesquisadores recentemente deram um passo impressionante na preservação da espécie humana ao codificar o genoma humano inteiro em um "cristal de memória 5D". É isso mesmo que você está lendo: uma pequena peça de vidro que pode armazenar informações por bilhões de anos. A ideia por trás dessa tecnologia é que, no caso de uma catástrofe que ameace a extinção humana, o cristal serviria como uma espécie de backup para armazenar nosso código genético para uma possível recriação no futuro.
Esse cristal não é novo no mundo da ciência. Na verdade, ele foi desenvolvido em 2014 por uma equipe da Universidade de Southampton, liderada por Peter Kazansky. Esse disco de vidro nanostruturado pode armazenar 360 terabytes de dados e é incrivelmente resistente. Para se ter uma ideia, ele pode durar 300 quintilhões de anos a temperatura ambiente! Mesmo se aquecido a 190ºC, sua vida útil ainda seria de impressionantes 13,8 bilhões de anos — o tempo que o universo existe.
O segredo por trás da durabilidade do "cristal de memória" está na forma como os dados são gravados. Ao contrário dos métodos tradicionais, como papel ou fita magnética (2D), o novo objeto utiliza duas dimensões ópticas e três coordenadas espaciais. Isso significa que a equipe de Kazansky usou lasers ultrarrápidos para gravar o genoma humano em espaços minúsculos no disco, com apenas 20 nanômetros de largura.
Essas gravações são tão precisas que podem manter a informação intacta por bilhões de anos, mesmo sob condições extremas de temperatura, pressão e radiação cósmica. O disco também contém mais do que apenas o código genético.
Seguindo o exemplo dos discos dourados da missão Voyager, que continham informações sobre a Terra para eventuais civilizações extraterrestres, o cristal de memória inclui uma chave visual explicando como usar o dispositivo, além de ilustrações de seres humanos e os elementos químicos fundamentais da vida, como hidrogênio, carbono e nitrogênio.
Embora essa tecnologia pareça coisa de ficção científica, a equipe de Kazansky está ciente de que ainda não temos as ferramentas necessárias para usar o cristal como planejado. No entanto, avanços na biologia sintética mostram que estamos caminhando nessa direção. Em 2010, cientistas criaram a primeira bactéria sintética, o que indica que, em um futuro não muito distante, talvez possamos criar seres humanos a partir de informações genéticas armazenadas.
Kazansky destacou que o cristal "abre possibilidades para outros pesquisadores criarem um repositório eterno de informações genéticas", que poderia ser usado para restaurar organismos complexos, como plantas e animais, caso a ciência evolua o suficiente para permitir essa façanha.
Por enquanto, o "cristal de memória 5D" que contém o genoma humano está guardado em um projeto de cápsula do tempo chamado Memória da Humanidade, localizado na mina de sal mais antiga do mundo na Áustria. A esperança é que ele nunca precise ser usado, mas, se o futuro exigir, a humanidade terá um último recurso para se recriar.