Ciência
05/11/2024 às 03:00•3 min de leituraAtualizado em 05/11/2024 às 03:00
O Monte Everest reina absoluto como o pico mais alto do mundo — medido a partir do nível do mar, claro. Mas será que ele vai manter esse título para sempre? Para responder essa pergunta, é preciso entender de onde vem toda essa altura e o que faz o Everest e o restante do Himalaia serem tão imponentes. Basicamente, montanhas crescem quando duas placas tectônicas se chocam. Nessa “briga de gigantes”, uma placa começa a passar por baixo da outra e acaba empurrando a crosta terrestre para cima, criando montanhas. Esse tipo de fenômeno é o que fez o Everest alcançar o seu posto de número um.
Segundo o geólogo Rob Butler, da Universidade de Aberdeen, na Escócia, o tamanho das montanhas criadas por esse processo depende de vários fatores, como a espessura e a temperatura da crosta. Em uma comparação curiosa, Butler explica que a crosta pode ser vista como um líquido viscoso, como xarope. “Assim como o xarope frio é mais firme, uma crosta mais fria e espessa pode formar montanhas mais altas que uma crosta mais fina e quente”, diz ele. Mas não é só isso que conta: a erosão — causada por rios, geleiras, chuvas e até deslizamentos de terra — também é um fator importante que afeta o crescimento do Everest.
Butler ainda destaca que a erosão, curiosamente, ajuda o Everest a se manter em alta. Graças a um fenômeno chamado isostasia, quanto mais uma montanha é “desgastada” e perde material, mais ela “flutua” acima do manto terrestre, camada que fica abaixo da crosta. Assim, conforme o Everest sofre erosão, ele se ajusta, e isso ajuda seu crescimento, em um ritmo equilibrado. Em 2024, um estudo mostrou que a erosão rápida em uma rede de rios, a 72 quilômetros do Everest, ajudou o pico a crescer entre 15 e 50 metros nos últimos 89 mil anos.
Porém, Matthew Fox, um dos autores do estudo e geólogo da University College London, explica que essa dança entre crescimento e erosão é uma questão de equilíbrio. “Se a taxa de elevação for maior, a montanha cresce; se a taxa de erosão for maior, a montanha encolhe”, comenta Fox.
No caso do Everest, esse equilíbrio entre os dois processos mantém sua altura relativamente estável, enquanto outras montanhas, como o Nanga Parbat, ao oeste do Himalaia, enfrentam uma erosão tão rápida quanto o crescimento, especialmente durante as monções intensas.
Então, o Everest pode ser destronado? Alguns cientistas cogitam a possibilidade de o próprio Nanga Parbat, atualmente o nono maior pico do mundo, crescer o suficiente para passar o Everest. Mas, para Butler e Fox, isso é improvável. Apesar do rápido crescimento, o Nanga Parbat sofre um desgaste acelerado devido à força das monções, o que complica sua disputa com o Everest, que erode mais lentamente e cresce de forma consistente. No momento, o Everest segue com uma confortável vantagem de 610 metros.
Mas Butler não descarta a possibilidade de um outro pico do Himalaia assumir o topo um dia. Ele lembra que as forças tectônicas na região ainda estarão em ação pelos próximos 10 milhões de anos, o que pode mudar as taxas de crescimento. No entanto, é improvável que surja um pico muito mais alto do que o Everest, dado que a formação dos Himalaias foi uma combinação rara e perfeita de colisão tectônica intensa, crosta fria e taxas altas de erosão. Butler brinca: “Se você espreme as coisas, elas só têm dois caminhos: para cima ou para os lados. E quando o lado já está tomado, só resta subir”.
Mesmo que algum outro pico o ultrapasse em alguns metros ou centenas deles, segundo Butler, “não veremos nada grandioso, como um pico de 10 quilômetros de altura”. Então, ao menos por enquanto, o Everest parece seguro no trono.