Por que as descobertas científicas parecem não ter fim?

24/10/2024 às 09:002 min de leituraAtualizado em 24/10/2024 às 09:00

Todos os anos, a comunidade científica produz milhões de artigos dentro das mais diversas áreas, como ciência, tecnologia, engenharia, matemática e medicina. Dá a impressão de que os cientistas nunca param de descobrir coisas novas, das mais simples às mais complexas.

E não é só impressão. Desde 1900, o número de artigos científicos costuma dobrar a cada 10 e 15 anos. E será que realmente as descobertas nunca vão acabar? E o que será que causou esse boom nos últimos séculos?

A evolução do conhecimento científico

(Fonte: GettyImages / Reprodução)
Por um tempo, imaginou-se que o aumento da produção científica seria prejudicial à humanidade. (Fonte: Getty Images / Reprodução)

No entanto, essa expansão extraordinária já foi considerada insustentável. Um influente livro publicado em 1963, chamado Little Science, Big Science, do historiador da ciência Derek de Solla Price, lançou o conceito de cienciometria, que é a análise da infometria de dados relacionados a publicações científicas.

Price previu que o mundo chegaria no fim dos seus recursos e nos talentos para a pesquisa. Para o autor, a consequência seria um declínio em novas descobertas e crises em potencial para a medicina, a tecnologia e a economia. A tese do livro foi bem aceita na época.

Mas, felizmente, a previsão de Derek de Solla Price estava incorreta. Em vez de estagnar, a ciência caminhou para frente, e agora o mundo vivencia uma explosão de produção científica. Mas o que será que causou esse crescimento?

O que explica o aumento na produção científica global?

(Fonte: GettyImages / Reprodução)
Sociólogos defendem a ideia de que as universidades impulsionaram as descobertas científicas. (Fonte: Getty Images / Reprodução)

Na obra Global Mega-Science: Universities, Research Collaborations, and Knowledge Production, os sociólogos David P. Baker e Justin J.W. Powell oferecem algumas explicações para esse crescimento rápido das descobertas científicas. 

Normalmente, quando se pensa nisso, quem é “responsabilizado” são eventos como crescimento econômico, guerras, corridas espaciais e competição geopolítica. Eles têm a sua importância, claro. Mas, segundo os autores do livro, sozinhos eles não dão conta de explicar por que o conhecimento científico aumentou tanto.

A hipótese defendida pela obra é que a capacidade científica do mundo foi construída sobre as aspirações educacionais de jovens adultos que começaram a buscar o ensino superior. Os autores explicam: nos últimos 125 anos, o aumento da demanda e do acesso ao ensino superior desencadeou uma revolução global na educação. Agora, mais de dois quintos dos jovens do mundo com idades entre 19 e 23 anos estão matriculados nessas instituições de ensino.

Este teria sido o “motor” que impulsionou a capacidade de produção de pesquisas científicas. Contabiliza-se que, hoje, mais de 38 mil universidades e outras instituições de ensino superior em todo o mundo tenham participação crucial das descobertas da ciência, nas mais diferentes áreas.

Por isso, o financiamento do ensino superior (seja em bolsas para os alunos, salários de professores e custeio de projetos) desempenha um papel fundamental nos avanços da ciência. Ou seja, a educação é a verdadeira impulsionadora da pesquisa científica mundial: os docentes universitários contribuem com 80% a 90% das descobertas publicadas a cada ano em milhões de artigos.

Esta é uma das razões que explicam por que defender as universidades vai muito além do aspecto da docência, que é um dos três pilares do ensino superior, ao lado de extensão e pesquisa. O crescimento destas instituições significa também uma melhora na vida de todos, por meio das tantas descobertas científicas que são feitas nelas.

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