Por que choveu tanto no Rio Grande do Sul e o que o desmatamento tem a ver com isso?

23/05/2024 às 16:003 min de leituraAtualizado em 23/05/2024 às 16:00

Entre o final do mês de abril e a primeira semana de maio, o estado do Rio Grande do Sul foi atingido por chuvas volumosas que deixaram um rastro de destruição em muitas das suas cidades. Além da perda de casas e estabelecimentos comerciais, foram muitos os casos registrados de pessoas e animais ilhados e em risco de serem arrastados pelas enchentes.

O pior ainda não parece ter ficado para trás, pois a população lida agora com um cenário devastador, onde muitos não possuem um lar para voltar. Mas, afinal, quais motivos explicam o motivo das chuvas terem se concentrado nessa região e causado um dano tão grande?

(Fonte: Getty Images/Reprodução)
Chuva concentrada destruiu cidades do Rio Grande do Sul. (Fonte: Getty Images / Reprodução)

Enchentes no Rio Grande do Sul: fatores atuaram simultaneamente

Apontar as mudanças climáticas como potencializadoras desse tipo de evento extremo explica parte do que aconteceu no sul do Brasil. Vale lembrar que entre o segundo semestre do ano passado e meados deste mês, o país sofreu ação do El Niño, fenômeno que provoca aquecimento das águas superficiais do Pacífico, o que por sua vez se desdobra em outros efeitos climáticos.

Mas nos dias em que o Rio Grande do Sul teve tanta chuva concentrada, em específico, três eventos diferentes estavam atuando sobre o território brasileiro. Começando pela massa de ar úmido proveniente da Amazônia, onde seus rios voadores carregavam umidade e se direcionavam ao oeste do continente.

Barrado pelo relevo mais elevado, esse corredor de umidade se desviou em direção do centro-oeste, sudeste e sul do país. Trata-se de um ciclo conhecido que ajuda a regular o clima, mas que, com o avanço do desmatamento, perde muito de sua força.

No entanto, o sudeste brasileiro já estava sob a atuação de uma massa de ar quente e seco mais intensa, o que nos leva ao grande problema. Ainda havia uma frente fria avançando pelo sul do Brasil.

(Fonte: Getty Images/Reprodução)
Corredor de umidade da Amazônia ficou retido sobre o Rio Grande do Sul. (Fonte: Getty Images / Reprodução)

Efeitos do desmatamento em larga escala

Fato é que nem essa frente fria e o corredor de umidade proveniente da Amazônia conseguiram se deslocar adequadamente e expandir a sua área de atuação, pois como já mencionado, a região sudeste do Brasil tinha uma massa de ar seco agindo, dando forma a um bloqueio atmosférico.

Com isso, as nuvens carregadas de chuva seguiram canalizadas sobre o Rio Grande do Sul, sendo consequência direta desses três fatores simultâneos. Soma-se a isso outro agravante característico de áreas densamente povoadas do território brasileiro, um país rico em rios de grande extensão: a retirada da cobertura florestal.

Ela implica não apenas na redução da absorção de gás carbônico do ar, mas também impede o próprio solo de absorver chuva de forma gradual, sem ficar encharcado. O avanço do desmatamento ainda deixa os rios desprotegidos, sem as chamadas matas ciliares.

Sem uma barreira natural nas suas margens, eles acumulam detritos carregados pelo vento, ou mesmo lixo lançado pelo próprio ser humano, e ficam mais rasos, perdendo capacidade de armazenar e transportar água até o seu destino final, que é o oceano. Sua função de reter chuva, portanto, também é comprometida.

Muitas pessoas e animais ficaram ilhados, dado o rápido avanço do nível das águas. (Fonte: Getty Images / Reprodução)
Chuva durante a primeira semana de maio alagou cidades inteiras, deixando pessoas ilhadas e vítimas fatais. (Fonte: Getty Images / Reprodução)

Mudanças climáticas e suas consequências devastadoras

Diante de uma chuva volumosa, áreas mais baixas, de planície e depressão, uma vez relativamente próximas ao leito dos rios, ficam alagadas. Por outro lado, o centro-oeste e o sudeste brasileiro também são regiões onde o desmatamento, hoje, fortalece a ação de massas de ar quente e seco que barram o avanço das frentes frias — que teriam justamente a função de distribuir chuva e deixar as temperaturas amenas.

O El Niño, citado anteriormente, ainda tem como característica aumentar a ocorrência de chuvas concentradas no sul brasileiro. Todos esses elementos, atuando ao mesmo tempo, mostram de forma cruel como a ação do homem potencializa as mudanças climáticas, e por sua vez, elas colocam em risco a vida de um grande contingente populacional.

Tais eventos climáticos, muitas vezes, superam a capacidade das cidades de absorver seus impactos, até porque as obras de prevenção são geralmente deixadas em segundo plano até que seja tarde demais. Dessa forma, a população fica cada vez mais refém de fenômenos que são previstos por modelos climáticos, mas que muitas vezes são ignorados pelas autoridades locais.

No entanto, à medida que as mudanças climáticas avançam, eles se tornam mais recorrentes. Por isso, vale o alerta: por mais que essas alterações já façam parte de uma triste realidade, ainda há muitas formas de mitigar seus efeitos.

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