Artes/cultura
01/11/2024 às 15:00•3 min de leituraAtualizado em 01/11/2024 às 15:00
Imagine a cena: você está à beira da praia em Nazaré, em Portugal, e vê, ao longe, uma parede de água do tamanho de um prédio vindo em sua direção. Pois é, não é exagero. As ondas dessa região são famosas por atingirem alturas impressionantes, tudo graças a um fenômeno geológico único no fundo do oceano. Não é à toa que a cidade portuguesa virou um ímã para surfistas corajosos e recordistas, como o alemão Sebastian Steudtner, que, em outubro de 2020, surfou uma onda de incríveis 26,21 metros, a maior já registrada até hoje.
Mas Nazaré não é o único lugar onde as ondas ganham proporções épicas. Existe uma competição feroz entre a natureza e as forças tectônicas para criar ondas ainda maiores em outros cantos do planeta. Quem é que dá conta de surfar essas ondas?
Para entender o que faz as ondas de Nazaré serem tão absurdamente altas, é preciso mergulhar, literalmente, nas profundezas do Oceano Atlântico. Ali, bem perto da costa portuguesa, existe o chamado “Cânion de Nazaré”, um desfiladeiro submarino com cerca de 227 km de comprimento e 5 km de profundidade. Esse cânion age como um verdadeiro funil, canalizando a força das ondas geradas no Atlântico e lançando-as direto para a costa com uma potência e altura incomparáveis.
Geralmente, quando as ondas se aproximam da costa, elas vão desacelerando e perdendo altura. Mas, em Nazaré, o formato único do cânion empurra as ondas sem que elas percam força. O resultado? Ondas que podem chegar a alturas impressionantes, e tudo isso concentrado em um único ponto da praia. "À medida que as ondas emergem na cabeça do cânion e chegam em águas rasas, elas crescem de forma abrupta e se tornam extremamente altas", explicou um estudo da Universidade de Coimbra.
Essa característica torna o local um verdadeiro palco para recordes. Em menos de 15 anos, Nazaré já se destacou com vários títulos no universo do surfe de ondas gigantes. A cidade virou praticamente o templo sagrado para quem quer desafiar os limites e, claro, tentar sair com o título de “Onda Mais Alta” surfada.
Mas, e se dissermos que existem ondas ainda maiores, formadas em condições extremas e devastadoras? É o caso da gigantesca onda da Baía de Lituya, no Alasca. Em 1958, um terremoto de magnitude 7.8 fez com que nada menos que 90 milhões de toneladas de rocha caíssem na baía, gerando uma onda que subiu a incríveis 524 metros, altura comparável a um arranha-céu gigante. Seria impossível surfar essa onda, mas ela provou o poder destrutivo da natureza.
E há ainda um “competidor” pré-histórico: o famoso asteroide Chicxulub, que dizimou os dinossauros. O impacto desse meteoro gerou um tsunami estimado em cerca de 1,5 km de altura, uma onda tão colossal que teria arrasado boa parte das terras próximas ao ponto de impacto, na Península de Yucatán, no México. Essa onda teria criado um efeito em anel que se espalhou por quilômetros, deixando marcas geológicas até hoje.
Esses fenômenos lembram que as ondas não são apenas para os surfistas de Nazaré. Elas também carregam histórias de destruição e transformação, provando que, às vezes, é melhor admirar o poder das ondas à distância.