Artes/cultura
31/08/2024 às 18:00•2 min de leituraAtualizado em 31/08/2024 às 18:00
A edição genética é uma das tecnologias mais revolucionárias da medicina moderna, sobretudo quando é aplicada no genoma humano. No entanto, a discussão sobre suas implicações éticas ainda é bastante controversa. Em 2015, cientistas americanos emitiram um alerta sobre os riscos da edição genética de linhagem germinativa — quando as alterações são transmitidas aos descendentes.
Já em 2018, a situação saiu completamente de controle quando dois bebês nasceram após a aplicação dessa técnica na China, gerando preocupações sobre a falta de regulamentação e supervisão ética. Ao que tudo indica, a ciência parece estar mais pronta do que nunca para usar o CRISPR, uma espécie de "tesoura genética", para alterar o genoma fetal. E o que deve acontecer daqui em diante?
A edição genética em fetos, também chamada de edição genômica pré-natal, ainda não foi realizada em humanos. Contudo, cientistas já estão discutindo suas implicações muito antes disso. Embora a técnica não vise alterar gerações futuras, a prática ainda levanta muitas preocupações. Afinal, o processo envolve modificar o DNA de um feto durante a gestação, o que pode trazer riscos para ele e para a futura mamãe.
Mas os problemas não param por aí. Especialistas estão debatendo sobre como essa tecnologia pode ser utilizada e se ela poderia, acidentalmente, gerar alterações germinativas. Um dos exemplos que mais preocupa envolvem o conceito de eugenia, no qual características genéticas indesejadas são eliminadas da população.
Além de ser uma prática discriminatória, as mudanças no DNA poderiam afetar identidades e comunidades inteiras. Por conta disso, a Comissão Nacional de Deficiência dos Estados Unidos já alertou que a edição pré-natal pode levar a um aumento da discriminação contra pessoas com deficiências.
Se não bastasse todos os questionamentos éticos sobre as tecnologias de edição genética, outro aspecto importante é o acesso à tecnologia. Atualmente, o custo dessa ferramenta é exorbitante. No caso de tratamentos de crianças com anemia falciforme, por exemplo, os valores giram na casa dos US$ 3,1 milhões.
A edição genética de fetos, ao tratar doenças antes do nascimento, poderia reduzir esses custos a longo prazo. Porém, sem políticas que garantam acesso igualitário, a tecnologia provavelmente seria restrita a uma pequena parcela da população mais favorecida financeiramente.
Além disso, criar confiança nas pessoas é outro desafio pela frente. Famílias de grupos sub-representados na pesquisa genômica relataram hesitação em participar de estudos, especialmente por não confiar nos profissionais de saúde envolvidos. Sem essa confiança, o desenvolvimento de tratamentos eficazes, como a edição pré-natal, pode ser comprometido. A inclusão dessas comunidades nas discussões é essencial para garantir que a tecnologia beneficie todos, sem criar novas desigualdades.