Artes/cultura
05/04/2024 às 18:00•2 min de leituraAtualizado em 11/04/2024 às 22:08
Você já parou para pensar se o mundo ao seu redor é mais do que apenas um objeto inanimado? E se cada partícula, desde uma mesa até o Sol, tivesse algum tipo de mente ou consciência? Essa é a ideia intrigante do pampsiquismo, uma teoria antiga que ressurge atualmente com novos questionamentos e debates.
O pampsiquismo, cunhado no século XVI pelo filósofo italiano Francesco Patrizi, propõe que toda matéria possua uma forma de mente ou uma qualidade similar à mente. Essa ideia tem suas raízes na Grécia antiga e foi revivida por pensadores como Arthur Schopenhauer e William James no século XIX.
No entanto, a partir do surgimento do chamado "positivismo lógico", no século XX, a teoria foi largamente descartada pela comunidade científica, principalmente porque o movimento normal naquele momento era se afastar da metafísica e de qualquer coisa que não tivesse caráter lógico.
Recentemente, avanços na neurociência, psicologia e física quântica têm reacendido o interesse pelo pampsiquismo. Giulio Tononi, neurocientista e psiquiatra italiano, propôs a Teoria da Informação Integrada (TII) em 2004, sugerindo que a consciência pode existir até mesmo em sistemas simples.
Em 2014, Christof Koch, neurocientista alemão-americano, argumentou que, se partes da matéria podem se tornar conscientes, não há motivo para que partículas elementares não possam também ter alguma forma de consciência.
O debate ganhou um novo nível de especulação quando o biólogo e autor Rupert Sheldrake levantou a questão: o Sol poderia ser consciente? Sheldrake sugere que a consciência não está necessariamente confinada ao cérebro e que campos eletromagnéticos podem ser a interface entre a mente e o corpo do Sol.
Embora essa ideia pareça saída de um livro de ficção científica, ela levanta questões interessantes sobre a natureza do universo e da consciência.
Por mais que essa proposição possa parecer interessante e corrobore com as expectativas de muita gente, é importante ressaltar que não há evidências concretas para apoiar essa teoria.
Sheldrake, por exemplo, é conhecido por suas ideias controversas e suas pesquisas não são aceitas por boa parte da comunidade científica. Além disso, o biólogo flerta com conceitos que estão mais pra metafísica do que para a ciência. Assim, por mais que ele seja, de fato, um cientista, nem tudo do que ele trata tem comprovação científica ou pode passar pelo crivo da ciência. O pampsiquismo é um exemplo disso.
De acordo com o filósofo britâncico Keith Frankish, o pampsiquismo desconsidera coisas básicas, como o nosso cérebro. Para o pensador inglês, a consciência é, antes de tudo, uma ilusão, pois nada mais é o processo de identificação das informações que nos são transmitidas pelos sentidos, criando aquilo que ficcionamos como mente.
Em 2023, uma carta com assinaturas de mais de 100 especialistas da área de estudo da consciência foi dura ao acusar a Teoria da Informação Integrada de Giulio Tononi de pseudociência, isso por ela estar, em grande medida, baseada no pampsiquismo.
O fato é que teremos de esperar para os próximos capítulos para saber quem vencerá o debate. O que é certo para boa parte dos cientistas e filósofos da mente é que, até o momento, o pampsiquismo não tem qualquer comprovação científica, estando mais para uma proposição apenas filosófica e metafísica.