Artes/cultura
19/06/2024 às 12:00•2 min de leituraAtualizado em 19/06/2024 às 12:00
O Universo guarda em si diversas similaridades construcionais provocadoras, como a identidade das partículas elementares. Essas partículas formadoras de átomos são tão idênticas que fica difícil não pensar que são a mesma.
Quando olhamos para os elétrons, notamos que são exatamente iguais: mesmo spin, mesma massa e, claro, carga negativa. Isso também acontece com o pósitron, antipartícula do elétron, cuja única diferença é a carga positiva.
Pensando em uma escala maior, os elétrons são tão iguais que seria como se você pudesse ir à concessionária trocar seu carro batido por um exatamente igual, incluindo os defeitos de mecânica, a bagunça no banco de trás e o arranhado na lataria. Ninguém notaria a diferença — nem você.
Estima-se que existam ao menos 1082 átomos espalhados pelo Universo, formando tudo o que conhecemos e o que ainda não descobrimos. Mas diante das possibilidades que esse número imenso traz consigo, um físico não se intimidou em dizer que talvez exista apenas um único elétron em todo o Universo. Para ele, o que vemos repetidamente são apenas pontos de sua trajetória errante, rompendo os limites e viajando no tempo.
John Archibald Wheeler (1911–2008) foi um físico americano com bastante prestígio nas áreas de cosmologia e no nascimento da física quântica. Alguns historiadores da ciência creditam a ele o nome dos buracos negros.
Wheeler levou a igualdade das partículas elementares tão a sério que em uma ligação telefônica com seu ex-aluno, Richard Feynman, propôs que esses múltiplos elétrons, na verdade, são apenas um.
Para ele, o elétron é capaz de ir e voltar no tempo, gerando um grande emaranhado, similar a um nó. Quando observamos, fazemos um recorte nesse nó e somos capazes apenas de ver as inúmeras trajetórias espaço-temporais feitas por esse elétron errante.
Além disso, quando esse elétron "volta no tempo", sua carga pode parecer modificada, gerando o que conhecemos como pósitron. Porém, apesar do experimento mental de Wheeler ser bastante interessante, e até plausível, algumas lacunas ainda permaneciam em aberto.
Existem menos pósitrons do que elétrons detectados no Universo. Quando questionado sobre essa diferença, o físico apenas respondeu que eles poderiam estar escondidos nos elétrons.
Mas a ideia não foi completamente descartada. Feynman achou interessante a relação de movimento dos pósitrons, estudando e desenvolvendo a eletrodinâmica quântica, o que lhe rendeu um prêmio Nobel em 1965. Em seu discurso de agradecimento, ele confessou "o roubo".