Estilo de vida
19/06/2024 às 14:00•2 min de leituraAtualizado em 19/06/2024 às 14:00
O governo de Ghezo. no Reino do Daomé, atual Benin, foi caracterizado por conquistas militares, políticas expansionistas e uma economia centrada no comércio de escravos. Conhecido por sua crueldade e uso da violência, Ghezo deixou um legado tenebroso que ainda ressoa na história do país.
Um estudo recente na revista Proteomics revelou métodos perturbadores de construção no palácio do rei Ghezo, em Abomey. A pesquisa utilizou espectrometria de massa avançada para analisar a argamassa das cabanas funerárias do palácio.
Os resultados dos testes foram chocantes: a argamassa continha sangue humano e de galinhas, confirmando antigas lendas sobre os rituais sangrentos de consagração vodu realizados por Ghezo.
Ghezo, que reinou de 1818 a 1858, era conhecido por sua brutalidade. As crônicas do seu governo narram que o trecho que levava à sua cabana estava pavimentado com crânios e mandíbulas de inimigos derrotados, e seu trono repousava sobre os ossos de líderes inimigos.
O detalhe é que essas histórias de violência extrema não eram meras lendas; elas foram corroboradas pelos restos materiais e culturais que sobreviveram ao tempo. Outro aspecto particularmente macabro de seu reinado foi a construção das cabanas funerárias.
Segundo a tradição, Ghezo ordenou que duas cabanas fossem erguidas em homenagem a seu pai, Adandozan. Para a construção dessas estruturas, foi usada uma mistura de óleo vermelho, água lustral e o sangue de 41 vítimas sacrificiais – um número sagrado no vodu.
Os sacrificados eram provavelmente prisioneiros de guerra ou escravizados, e o sangue deles era utilizado em cerimônias vodu destinadas a proteger espiritualmente os restos mortais do rei.
A equipe de pesquisadores usou técnicas de análise metaproteômica para estudar amostras da argamassa avermelhada das cabanas. Eles descobriram a presença de hemoglobina e imunoglobulinas humanas e de galinhas, confirmando que o sangue humano havia sido de fato usado na construção das paredes.
Embora ainda não se saiba exatamente de onde veio o sangue ou de quem ele pertencia, é possível que tenha sido obtido durante os rituais de "Grandes Costumes", que incluíam o sacrifício de até 500 pessoas para honrar a morte de um rei do Daomé.
Segundo os pesquisadores, essas práticas eram fundamentais para a cultura vodu local, onde a morte era vista como uma transição para outro estado de existência. Por isso, rituais sangrentos eram realizados para assegurar a proteção espiritual e a continuidade da vitalidade do falecido.
Além do sangue humano, a análise revelou também a presença de trigo na argamassa, um ingrediente inusitado que não era cultivado na região durante o reinado de Ghezo. Isso sugere que Ghezo, que admirava Napoleão III e tinha ligações com a França, pode ter incluído farinha de trigo obtida através dessas conexões como parte dos sacrifícios.
A pesquisa, ainda que limitada a uma pequena amostra das cabanas funerárias, abre portas para estudos mais extensos que podem revelar mais detalhes sobre esses rituais que para nós, hoje, parecem saídos de filmes de terror, mas que representam um aspecto cultural importante de um povo e nos revela um pouco mais da história do Reino do Daomé.