Ciência
10/10/2024 às 18:00•2 min de leituraAtualizado em 10/10/2024 às 18:00
O Ártico não é exatamente um lugar acolhedor. No entanto, algumas das criaturas que habitam essa região congelada, como renas e lobos, possuem uma série de adaptações genéticas que as ajudam a sobreviver em um ambiente tão inóspito. E com os ursos polares, um dos principais predadores do Ártico, não seria diferente.
Um estudo recente revelou, no entanto, que esses ursos se adaptaram às condições extremas de frio há apenas 70 mil anos — um piscar de olhos em termos evolutivos. A pesquisa foi publicada na revista BMC Genomics no dia 15 de setembro e destaca que as mudanças genéticas dos ursos polares ocorreram de maneira gradual, e não de uma só vez, como se acreditava anteriormente.
Para entender como os ursos polares se tornaram mestres da sobrevivência no Ártico, o estudo analisou os genomas de 119 ursos polares modernos, 135 ursos-pardos e dois fósseis de ursos polares antigos. Essa abordagem permitiu aos pesquisadores identificar os genes que provavelmente foram selecionados ao longo do tempo para garantir a sobrevivência dos ursos no ambiente ártico.
A equipe de cientistas focou em sete genes que desempenham papéis essenciais nas adaptações biológicas dos animais. Entre eles, quatro genes (ABCC6, AIM1, COL5A3 e POLR1A) apresentaram variações fixas em todos os genomas de ursos polares estudados. Isso indica que esses genes, responsáveis por funções como regulação da pigmentação e metabolismo, estavam presentes no DNA de antigos ancestrais e contribuíram para a adaptação dos ursos desde cedo em sua história evolutiva.
No entanto, três genes em particular (APOB, LYST e TTN) só apareceram como variantes fixas nos ursos polares modernos, mas não nos fósseis mais antigos. Esses genes estão associados a funções cardiovasculares e pigmentação, sugerindo que as mudanças mais recentes podem ter sido cruciais para os ursos sobreviverem ao final da última era glacial. A presença de alelos diferentes nos genomas dos ursos-pardos também indica que os ursos polares passaram por um processo de seleção genética mais prolongado e específico para enfrentar o frio extremo.
Esses genes têm uma influência direta nas adaptações mais notáveis dos ursos polares. O gene APOB, por exemplo, ajuda a metabolizar grandes quantidades de gordura, permitindo que os ursos consumam e processem blubber (gordura de foca) sem prejuízos ao coração. LYST e TTN, por sua vez, estão ligados à pigmentação e outras características fisiológicas que ajudaram os ursos a manter o calor corporal e caçar em um ambiente onde as temperaturas raramente sobem acima de zero.
A descoberta lança uma nova luz sobre a história evolutiva dos ursos polares e mostra que, embora sejam considerados mestres do Ártico, suas adaptações ainda são relativamente jovens em termos evolutivos. “Nossos resultados sugerem que a adaptação ao Ártico foi um processo mais gradual do que imaginávamos inicialmente”, reforçou o biólogo evolucionário da Universidade de Copenhague e coautor do estudo, Michael Westbury.
A pesquisa abre portas para mais estudos sobre como essas adaptações ocorreram e quais foram os fatores ambientais que moldaram a evolução dos ursos polares, tornando-os os reis do gelo.