Ciência
31/12/2022 às 06:00•2 min de leitura
Em filmes e séries de TV que retratam a Idade Média, é bastante comum ver personagens, na grande maioria camponeses, retratados como banguelas ou com dentes ruins e bem podres. Mas até que ponto isto é realidade?
Será que a população da época sabia cuidar da saúde bucal? Teriam eles entendimento suficiente sobre o assunto centenas de anos atrás?
Embora com ferramentas ultrapassadas, médicos e cirurgiões davam conta da saúde bucal da população medieval. (Fonte: Hulton Archive/Getty Images)
Parece que essa história de que a maioria das pessoas tinha dentes ruins na Idade Média é mesmo coisa da ficção. Pelo menos é isso o que diz a Associação Britânica de Dentistas, que em 2004 afirmou em nota que seus ancestrais "eram muito mais atentos aos valores de um bom sorriso" do que se acreditava até então.
Aparentemente, na época, cirurgiões, médicos e curandeiros tinham bastante noção de saúde bucal e conheciam diversas condições como placas, cavidades e mau hálito, tendo conhecimentos suficientes para lidar com tais problemas, mesmo séculos atrás. É claro que eles precisavam trabalhar com ferramentas e medicamentos ultrapassados, mas ainda assim davam conta do recado.
E por dar "conta do recado", queremos dizer que geralmente o problema era resolvido, mas quase sempre a solução era a mais prática: simplesmente removendo o dente problemático. Este procedimento costumava ser deixado para profissionais como barbeiros, que na época além de remover dentes também realizavam sangrias.
Até existiam formas de tentar tratar as condições, mas geralmente os tratamentos eram muito mais caros do que apenas fazer a extração dental. Por isso, quando precisavam de serviços de dentistas, as classes mais pobres acabavam optando por simplesmente arrancar o dente ruim — embora isto não fosse exatamente um problema tão recorrente.
Camponeses tinham alimentação muito mais saudável do que os membros da nobreza
Na realidade, não. Como tinham menos dinheiro do que os nobres, a dieta dos camponeses era mais saudável e consistia de muitos grãos e vegetais, além de alimentos ricos em cálcio. Isto refletia diretamente na saúde bucal, que era muito melhor do que a dos membros mais ricos da sociedade.
Como o açúcar e demais alimentos doces eram muito caros, apenas uma pequena parcela da população tinha acesso às guloseimas. A lista incluía até mesmo frutas, algo que passava longe da cozinha das casas mais pobres. Por isso, era muito mais comum aos nobres ter problemas nos dentes, como as temidas cáries, precisando muitas vezes apelar para caros tratamentos que envolviam coisas como cera de abelhas, massas lubrificantes e até mesmo arsênio.
Enquanto isso, documentos históricos mostram que os camponeses na realidade tinham uma rotina de limpeza dental bastante similar à nossa, com a escovação dos dentes e a limpeza das gengivas fazendo parte do cotidiano do povo medieval. Só que em vez de escovas de dentes, eles utilizavam panos de linho mais ásperos ou até mesmo gravetos mastigados e raízes de plantas para realizar a limpeza.