Artes/cultura
03/01/2023 às 12:00•3 min de leitura
Relacionado a uma época de repressão, autoritarismo oposicionista e ideologias ultranacionalistas, o símbolo do fascismo, formalizado na década de 1920 pelo ditador italiano Benito Mussolini, traz raízes baseadas no poder e no conceito de força através da unidade. E, apesar de toda essa proposta ser repudiada internacionalmente e buscar motivações em um passado sombrio, bandeiras e estruturas ao redor do planeta insistem em perpetuá-la.
Relatos apontam que a ideologia nasceu com os fasces ("conjunto", em tradução livre para o latim), simbologia primitiva que teria supostamente surgido com a civilização etrusca, durante a ocupação da Península Itálica entre 900 a.C. e 27 a.C. Talhado em artefatos e em estruturas antigas de ferro, essas marcas representariam o conceito de poder e autoridade aplicado pelos reis etruscos.
(Fonte: duncan1890/Getty Images)
Posteriormente, com o fortalecimento do imperialismo romano, o emblema deixou de apresentar um feixe de hastes unidas para se transformar em um único e poderoso distintivo politico, onde significados próprios e regras seriam implementadas na ideia original. Conhecidos como fasces lictoriae, eles mediam cerca de 1,5 metro de comprimento, revelando 13 hastes de bétula ou olmo amarradas com tiras cruzadas de couro vermelho. Além disso, um machado se projetava para fora da estrutura, sendo sustentado por um cabo central.
Nessa época, as imagens simbolizavam o poder e a jurisdição do magistrado romano, onde cada subordinado era indicado por uma haste. Dependendo da posição hierárquica do membro, um número específico de fasces ficava destinado e variava entre duas, edil curul, a 24, para os ditadores. Generais e imperadores romanos também tinham direito a adornos exclusivos e decoravam seus brasões com uma coroa de louros, mais evidente após vitórias em campo.
(Fonte: Wikimedia Commons)
Com o tempo, os fasces se tornaram um temido símbolo de conquista e, assim como marcava feitos positivos, também indicava ações contraventoras. Quem tivesse uma marca designada a si era visto como alguém com o direito de aplicar punições corporais e capitais em criminosos, podendo açoitar em casos mais leves e decapitar em condenações mais severas. Um dos exemplos fica por conta de Júlio César (100 a.C.–44 a.C.), que carregou um ícone pelas ruas de Alexandria após derrotar seu rival Pompeu.
O excesso de poder a entes políticos resultou em limitações e o órgão fundamental de uma república passou a agir em primeiro plano: o povo. No interior de Roma, os magistrados não podiam apresentar as cabeças de machado em seus emblemas, como forma de oferecer o poder sobre a vida e a morte para a sociedade e a assembleia. A exceção ocorria apenas em casos de emergência, quando os líderes escolhiam um ditador para carregar marcas com a lâmina mesmo dentro do sagrado Pomerium.
(Fonte: Getty Images)
Tempos depois da queda de Roma, o símbolo passou a ser amplamente associado a outras nações, especialmente àqueles grupos interessados em imitar as antigas doutrinas etruscas. A Primeira República Francesa (1792–1804) adotou um selo oficial com a figura da Liberdade segurando os fasces, marcando a gravura de paz e justiça popularizada pelas mãos do pintor Maurice de Meyere, patriarca do lema republicano "Liberdade, Igualdade e Fraternidade".
Nos Estados Unidos, essas marcas se estenderam a vários prédios públicos e na iconografia histórica do país. Elas podem ser encontradas no Salão Oval, na Câmara dos Deputados, no topo da cúpula do Capitólio e no selo oficial do Senado e da Tribuna Fiscal. Além disso, elas são comumente associadas a Abraham Lincoln.
Apenas no final do século XIX que a simbologia passou a assumir um significado mais radical, especialmente na Itália. Grupos revolucionários reciclaram os conceitos de "união" e "liga" para lutar por salários mais altos, aluguéis mais justos e redistribuição de terras, como parte de exigências de movimentos revolucionários democráticos e socialistas conhecidos como Fasci Siciliani. Essa conotação estimulou o jovem jornalista Benito Mussolini e fundar a infame Marcha Sobre Roma, em 1922, e tomar o poder como primeiro-ministro da Itália, estabelecendo uma autocracia absoluta e ditatorial.
(Fonte: Wikimedia Commons)
Preso e posteriormente resgatado por alemães de um estado nazista fantoche ao norte da Itália, Mussolini repassou seus ideais opressores para a sucessão do símbolo fascista: o nazismo. Com isso, o antigo símbolo dos fasces perdeu poder e deu lugar à suástica, apesar de nunca ter sido abandonado oficialmente por seguidores mais vorazes. Enquanto isso, poucos conhecem seu passado sombrio e destacam apenas os valores republicanos e democráticos, instaurados antes de haver a associação com atos violentos de repressão.