Artes/cultura
04/02/2023 às 06:00•4 min de leitura
O principal assunto da cultura pop no início de 2023 foi a música feita pela colombiana Shakira para expor seu ex-marido, o jogador de futebol espanhol Gerard Piqué. Logo surgiram inúmeros comentários dizendo que a cantora realizou o sonho de Simón Bolívar: unificar toda a América Latina contra a Espanha.
(Fonte: Tudo Geo/Twitter)
Brincadeiras à parte, Simón Bolívar realmente dedicou sua vida à independência das colônias espanholas na América — e sonhava que elas se unissem em um único e enorme país. Em um de seus escritos mais famosos, a Carta da Jamaica, ele dizia:
“Eu desejo mais que qualquer outro ver se formar na América a maior nação do mundo, mais por sua liberdade e glória do que por sua extensão e riquezas.”
Esse sonho fez com que Bolívar participasse da independência de seis países da América do Sul, sendo presidente não apenas em um, mas em quatro deles. Para entender como Simón Bolívar fez tudo isso, é importante conhecer sua história.
Simón José Antonio de la Santísima Trinidad Bolívar y Palacios nasceu no dia 24 de julho de 1783, em Caracas, então parte da Capitania Geral da Venezuela. Seus pais eram parte da elite criolla, grupo de descendentes de espanhóis que controlavam os negócios na região.
Como todo criollo, Simón deveria estudar na Europa e voltar para administrar os negócios da família. Mas, antes mesmo dos 10 anos, o garoto tinha perdido os dois pais, então seus tios decidiram enviá-lo para escolas locais, mantendo-o próximo da família. Lá, ele teve aulas com Simón Rodríguez, que lhe apresentou as ideias do iluminismo.
Essa parte da educação seria extremamente importante para a formação política de Bolívar. Aos 14 anos, ele entrou para a Academia Militar e alcançou o posto de subtenente. Em 1799, aos 16, foi estudar na Espanha. Voltou de lá casado com María Teresa, outra oriunda da elite criolla, em 1802.
Mas a felicidade durou pouco, já que a esposa de Bolívar contraiu febre amarela e faleceu pouco tempo após retornar à Venezuela. Depois dessa perda, Simón resolveu passar mais um tempo na Europa — o que seria decisivo para o futuro como “Libertador da América”.
Pintura de 1826, que retrata Bolívar em batalha. (Fonte: Wikimedia Commons)
Na França, ele viu Napoleão Bonaparte ser declarado imperador. Então, seguiu para Roma, acompanhado de seu professor Rodríguez — aquele que lhe apresentou as ideias iluministas. No Monte Sagrado, um famoso local de peregrinação, ele teve uma epifania: voltaria para casa para libertar a América da dominação espanhola. Uma promessa e tanto!
Na volta dessa viagem, ele ainda ficou um tempo nos Estados Unidos, vendo com os próprios olhos como era fundar um país recém-independente. Quando chegou, ele encontrou seu povo completamente agitado, uma vez que os colonizadores espanhóis estavam sendo dominados pela França de Napoleão. Era uma oportunidade única para lutar contra eles.
Bolívar começou a fazer reuniões secretas para discutir a política interna e, em pouco tempo, já existia uma junta revolucionária. Mas ele ainda não era o líder do movimento.
Seu papel de liderança começou a aparecer quando a junta revolucionária depôs um militar espanhol e promoveu Bolívar a coronel. Em seu novo posto, ele foi à Inglaterra — inimiga da Coroa Espanhola — para conquistar apoio para a independência.
(Fonte: Hulton Archive/Getty Images)
Em 1811, Bolívar iniciou a luta na Venezuela — respondida pela Espanha com o envio de tropas, que derrotaram os rebeldes. Entre a prisão e o exílio, ele escolheu a segunda opção. O líder se refugiou em Cartagena, então parte da Nova Granada.
No exílio, Bolívar começou a organizar um exército para marchar sobre Caracas e tomar o país a força — e é nesse momento que ele se torna o maior líder pela independência das colônias espanholas. Documentos que expunham suas ideias liberais, como o "Manifesto de Cartagena", o tornaram famoso em toda a América Espanhola.
Em agosto de 1813, liderando 800 homens, Bolívar conseguiu conquistar Caracas. Ele também foi o segundo presidente da Venezuela, deposto em 1814 após sofrer outra derrota militar para os espanhóis. Assim, ele voltou a se exilar na Nova Granada.
Nessa época, a Coroa Espanhola já estava derrotando os franceses na Europa, estimulando um sentimento de que todo o progresso na América também poderia ser perdido. Com esse senso de urgência, Bolívar estimulou uma luta pela independência na Nova Granada. Porém, como as elites locais e o povo tinham ideias muito diferentes, quase houve uma guerra civil.
Esse clima hostil obrigou Bolívar a viajar mais uma vez, dessa vez para o Caribe. No Haiti, ele conseguiu apoio de Alexandre Pétion, presidente que ajudou a libertar o país dos franceses. Com esse apoio, ele voltou à Venezuela em 1816, libertando os escravos e conquistando a cidade de Angostura. De lá, ele partiu para Nova Granada, travando uma violenta batalha com os espanhóis. A vitória foi conquistada em 1819.
Para realizar seu sonho de um grande e único país, ele organizou todos os territórios sob a bandeira da Gran Colômbia — sendo o presidente desse novo país.
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Estátua de Bolívar em Caracas, Venezuela (Fonte: Wikimedia Commons)
Na década de 1820, ele se envolveu ativamente no processo de independência do Peru e da Bolívia, país que foi batizado em sua homenagem. Ele ocupou a presidência dos dois, além da Gran Colômbia e da Venezuela. Ele promoveu políticas de abolição e reforma agrária, mas seu sonho de reunir todas as colônias em um só país permanecia.
Em 1828, as elites locais começaram a acusar Bolívar de autoritarismo, levando-o a renunciar à presidência da Gran Colômbia, dois anos depois. Logo, quatro países independentes surgiram: Colômbia, Venezuela, Equador e Panamá. Era o fim do sonho da América unificada.
Simón Bolívar terminou sua vida pobre — já que gastou a fortuna da família em viagens e nos movimentos de independência. Morreu de tuberculose, na Colômbia, no fim de 1830. Mas seu legado seria reconhecido nas décadas e séculos seguintes: além de dar nome à Bolívia, ele é homenageado em cidades, parques, estádios e monumentos.