Ciência
17/12/2023 às 04:00•2 min de leitura
Em outubro de 2023, o historiador britânico Roger Moorehouse lançou seu livro The Forgers, que desvenda a história até então não contada de uma campanha ousada para resgatar judeus europeus na Segunda Guerra Mundial. Para conseguir isso, o governo da Polônia, operando no exílio após a ocupação alemã de seu território em 1939, forjou cerca de 10 mil passaportes latino-americanos que ajudaram os judeus de todo o continente a escapar da morte quase certa.
Essas pessoas eram conhecidas como Grupo Lados, em homenagem ao seu líder e encarregado pelos negócios poloneses na Suíça, Aleksander Lados. Composto por quatro diplomatas que trabalhavam na embaixada polaca em Berna, juntamente com dois representantes humanitários, esses indivíduos foram responsáveis diretamente por mudar a vida de inúmeras pessoas.
(Fonte: Wikimedia Commons)
Quando o Grupo Lados começou a agir, a Suíça era basicamente uma ilha de democracia em meio a um mar crescente de totalitarismo. Isso também significava que o país estava lotado de espiões, diplomatas, refugiados e humanitários. Porém, para manter a sua neutralidade e autonomia durante a Segunda Guerra Mundial, os suíços hesitaram em resistir abertamente ao Terceiro Reich de Adolf Hitler.
Quando Lados chegou a Berna como novo enviado polaco, na primavera de 1940, o pessoal da embaixada não ficou impressionado. Ele passava a maior parte dos dias deitado no sofá do escritório, fumando seu charuto. Contudo, por baixo daquele exterior preguiçoso havia um homem político, lutador e jornalista, que tinha sido exilado da Polônia pelas autoridades austríacas na Primeira Guerra Mundial.
Duas décadas depois, Lados escapou da ocupação nazista numa longa viagem até a fronteira romena, conseguindo refúgio com uma família judia — um ato que ele jamais esqueceria. Durante três anos, no início da década de 1940, este pequeno grupo realizou uma das maiores operações de resgate na Europa. Com a ajuda de um funcionário do Paraguai que se dispôs fornecer-lhes passaportes em branco, a embaixada polonesa passou a fornecer documentos falsificados para que judeus pudessem escapar do continente em segurança.
(Fonte: Getty Images)
Nos anos seguintes, quando o assassinato de judeus tornou-se uma questão de política alemã, cartas codificadas e desesperadas inundaram a embaixada vindas de todo o continente. Já era improvável que os passaportes pudessem ser usados para fugir da Europa, mas ainda poderiam servir como último recurso em situações desesperadoras. Os judeus em território nazista estavam sendo enviados em massa para campos de extermínio.
Porém, aqueles com passaportes estrangeiros eram mandados para campos de detenção. Nesses locais, ainda existiam riscos de doenças, fome e violência, mas as chances de sobrevivência ainda eram maiores. Com o tempo, a embaixada polaca facilitaria passaportes falsos para judeus na Polónia, Países Baixos, Eslováquia, Hungria e Alemanha. A nacionalidade dos passaportes variava em nome do Paraguai, mas também Peru, El Salvador, Honduras e Haiti.
Acredita-se até hoje que o Grupo Lados pode ter figurado entre os falsificadores mais prolíficos de todos os tempos, salvando dezenas de milhares de vidas durante a Segunda Guerra Mundial com suas incríveis habilidades de forjar documentos. Depois do conflito, a incrível história de Lados e seus falsificados acabou desaparecendo. O líder juntou-se a oposição polaca e mudou-se para França. Já outros membros deixaram o corpo diplomático e buscaram empreendimentos comerciais na Suíça. De todo modo, seus feitos jamais serão esquecidos.