Estilo de vida
03/04/2018 às 07:01•3 min de leitura
Esparta foi uma cidade-estado que sobreviveu entre os anos 900 a.C e 192 a.C, mas sua “lenda” resiste até hoje. Apesar de ser um capítulo clássico das aulas de História relacionadas à Grécia Antiga, a vida dos espartanos voltou a ganhar popularidade em 2006, quando foi lançado o filme “300”, estrelado por Gerard Butler no papel de Leônidas. Quem não se lembra da icônica cena do rei barbudo gritando “This is Sparta!” antes de chutar um inimigo fosso abaixo, não é mesmo?
No cinema, a obra misturou elementos históricos com outros mais do que exagerados, fictícios, como o personagem de Rodrigo Santoro, por exemplo, que até existiu, mas não da maneira retratada nas telonas. Hoje vamos falar sobre o que realmente acontecia na vida de uma pessoa nascida naquela sociedade voltada para a guerra.
Os espartanos não davam muito espaço para alguns conceitos como “igualdade”, “inclusão social” e “acessibilidade”. Lá, um menino nascia para ser mais um membro do forte exército espartano, por isso o filme “300” poderia ter recebido o nome de outro sucesso de Hollywood: “Onde os Fracos Não Têm Vez”.
Todos os bebês eram avaliados por um “Conselho de Anciões” após o nascimento e, caso apresentassem algum tipo de deficiência física, eram simplesmente descartados. Pois é, recém-nascidos eram deixados para morrer simplesmente porque não se enquadravam nos padrões da sociedade. Em alguns casos, esses bebês acabavam “adotados clandestinamente” por boas almas que os encontravam.
Se você passasse pela primeira avaliação espartana, teria pouco tempo para viver uma vida apropriada para crianças como pensamos hoje em dia. A partir dos 5 anos de idade, todos os meninos iniciavam um treinamento que só iria se intensificar com o passar do tempo. Até os 11 anos, os pequenos espartanos moravam em quartéis onde aprendiam algumas técnicas de movimentação e manuseio de armas que seriam usadas mais para frente.
Nascido para a guerra, um menino de Esparta era ensinado a sofrer e sobreviver sob condições desfavoráveis desde cedo. Dentre as práticas utilizadas que visavam garantir resistência aos futuros guerreiros, estavam a retirada de calçados, roupas e até mesmo da comida em alguns momentos. Ou seja, a partir dos 12 anos, as crianças já eram submetidas, propositalmente, a frio e fome.
Um dos clichês das mamães da atualidade é o famoso “brincadeira de mão não dá certo”, mas em Esparta esse pensamento não fazia sentido algum. Os meninos eram constantemente incentivados e provocados a brigarem entre si, principalmente aqueles que se mostravam mais tímidos.
Com a constante necessidade de fortalecer seu exército, Esparta precisava ter mães fortes, não só psicologicamente, mas também fisicamente. As mulheres também passavam por treinamentos atléticos para que pudessem dar à luz o máximo possível de crianças saudáveis. Até modalidades como lançamentos de discos e dardos, que são esportes olímpicos até hoje, eram ensinadas às garotas espartanas.
Se na nossa sociedade matar alguém é uma das ações mais recrimináveis, naquela era sinal de que você estava completo para servir à cidade-estado. Aos 18 anos, o espartano já era considerado um soldado, mas só seria realmente respeitado e teria a possibilidade de subir hierarquicamente em sua carreira militar após matar inimigos. Os hilotas, que eram praticamente escravos de Esparta, costumavam ser os principais alvos dos jovens recrutas.
Para os espartanos, a relação entre homens jovens e idosos era bem diferente da que consideramos normal hoje em dia. A pederastia rolava solta por lá naqueles tempos, e muitos anciões atuavam como tutores para os mais novos. Além da arte da guerra, os idosos ensinavam, na prática, sobre o amor. Ou seja, a homossexualidade não era um tabu nem para povos que viviam há mais de 2 mil anos.
Dentro da mentalidade militar espartana, um bom soldado precisava saber atacar, defender e resistir a ferimentos. Por isso, existia até uma competição para provar a resistência dos participantes. Adolescentes eram flagelados em frente a um altar construído em homenagem à Ártemis, deusa ligada à vida selvagem e à caça.
Somente após o intenso (e extenso) treinamento militar o espartano estaria liberado para se relacionar seriamente com uma mulher. Para eles, o casal ideal era composto por um homem de 30 anos e uma mulher de 20. Caso um relacionamento fosse descoberto antes dessas idades, ambos seriam proibidos de se verem até a conclusão da “escola de guerra”.
Se você nascesse como homem em Esparta, sua única profissão seria a de soldado. E se para nós o conceito de aposentadoria parece cada vez mais distante e improvável, para eles era muito pior. Você só estaria liberado do serviço militar aos 60 anos de idade — isso se estivesse vivo a essa altura, claro.