Artes/cultura
06/05/2018 às 08:00•3 min de leitura
Cada um tem seu esporte preferido, seja para assistir ou praticar, mas em relação à popularidade nenhum se compara ao futebol por aqui. No Brasil, convivemos com ele desde criança, gostando ou não, e a Copa do Mundo prova que, pelo menos a cada 4 anos, muita gente que não acompanha o esporte desvia o olhar para pelo menos uma partida.
Pelo que parece, jogos em que pessoas utilizam bolas são populares há muito tempo. Os povos que habitavam a região da mesoamérica, sendo os mais conhecidos os maias e os astecas, praticavam um esporte que em alguns pontos se assemelha ao futebol, e indícios mostram que ele era bem comum.
A quantidade de quadras que sobreviveram ao tempo mostra a importância desse jogo na época. Além disso, elas estão localizadas em regiões das antigas cidades destinadas a rituais sagrados, sugerindo que talvez a prática acontecesse mais do que por puro entretenimento.
De modo geral, elas possuíam formato de "I", mas com dimensões bem variáveis. Da mesma forma que existiam quadras pequenas, com 36 x 9 metros, outras eram gigantescas, com 168 x 70 metros; ou seja, maiores que um campo de futebol atual. A área interna possuía um gramado plano, circundado por paredes, nas quais eram afixados os aros utilizados para o jogo, sendo que a altura desses elementos também era variável.
A bola utilizada, feita de uma mistura látex, tinha entre 25 e 30 centímetros de diâmetro e pesava de 1,5 a 3 quilos. Considerando que uma bola de futebol moderna pesa 500 gramas e possui um diâmetro de 22 centímetros, esse não era um jogo para pessoas sensíveis. Por isso, os jogadores utilizavam proteções pelo corpo, principalmente na região da cintura, mas em alguns casos também nos cotovelos, joelhos e ombros.
São escassos os registros de como o jogo funcionava, mas, considerando a sua popularidade e abrangência, acredita-se que existiam variações nas regras de acordo com a região. Segundo os colonizadores espanhóis, que chegaram lá no século 15, as partidas eram disputadas entre equipes de duas a cinco pessoas.
Registro feito por espanhóis em 1532
A princípio, o objetivo era passar a bola pelo aro fixado na lateral do campo, posicionado no alto. Pode parecer algo relativamente simples e até lembrar vagamente uma partida de basquete ou futebol, mas a diferença é que não se podia utilizar as mãos nem os pés. Sendo assim, a maneira mais eficaz de jogar era usando golpes com os quadris, batendo na bola de látex de acordo com os seus saltos.
Existem registros de uma versão em que tacos eram utilizados para deslocar a bola, semelhantes aos utilizados em partidas de hóquei, mas, devido ao baixo número de registros, é provável que sua popularidade tenha sido muito menor.
De maneira geral, o jogo possuía uma grande importância para a comunidade. Partidas foram representadas em esculturas, pinturas em cerâmica e decorações arquitetônicas, além de existirem troféus, que foram encontrados enterrados ao lado de seus prováveis merecedores.
Mural mostrando o sacrifício do capitão perdedor
Não se sabe o contexto, mas algumas partidas acabavam com o capitão, ou até mesmo todo o time perdedor, sendo sacrificado. Como esse tipo de ritual era comum na cultura desses povos, o jogo provavelmente tinha algum significado religioso. Existem registros nas paredes das quadras que resistiram até hoje, sendo um forte indício para essa hipótese.
Devido ao grande número de quadras que ainda se mantêm, várias numa mesma cidade, é impossível não imaginar que esse esporte foi popular na época. Com a colonização agressiva, assim como aconteceu por aqui, toda a cultura desses povos foi suprimida. Hoje há vários eventos esportivos que mobilizam milhões de pessoas como espectadores, mas já imaginou se um deles fosse o milenar esporte mesoamericano?