Estilo de vida
09/06/2018 às 10:00•4 min de leitura
A estrutura da Terra está em constante transformação. Desde que nosso planeta resfriou e firmou-se no Sistema Solar, diversas mutações ocorreram em toda a sua vasta extensão — como a supermassa conhecida como Pangeia, que se fragmentou e gerou os continentes como os conhecemos.
Mas, além das alterações geológicas causadas pelo tempo, os habitantes daqui — e não estamos falando dos humanos — promoveram mudanças. Há bilhões de anos, a vida vem transformando completamente a superfície e a atmosfera. Aqui estão algumas das incríveis maneiras como criaturas grandes ou pequenas moldaram nosso mundo.
Os recifes por si só são estruturas vivas extraordinárias: formações construídas a partir da deposição de carbonato de cálcio por diversos organismos marinhos, como algas calcárias e moluscos. Mas amêijoas, esponjas, ouriços e peixes os roem naturalmente, causando corrosão. O resultado: muita areia, que pode remodelar e até construir ilhas.
Um estudo publicado na revista Geology em 2015 mostrou que a ilha de Vakkaru, nas Maldivas, é coberta por 680 mil quilos de sedimentos a cada ano. Cerca de 80% dessa massa vêm diretamente do cocô de peixes-papagaio, depois que eles se alimentam de corais.
Alguns dos fósseis mais antigos da Terra são os estromatólitos: estruturas em camadas, feitas por colônias aquáticas de micróbios fotossintéticos, as cianobactérias. Como elas produzem açúcares a partir da luz solar e do CO2 na água, acabam desencadeando a formação de calcita — que está por trás das estalagmites e das estalactites em cavernas.
À medida que o mineral e outros pequenos sedimentos se espalham por esses organismos diminutos, eles ficam presos nos seus filamentos externos pegajosos. Com o tempo, surge um lençol de rochas finas; mais cianobactérias crescem sobre ele, e o ciclo começa de novo. Depois de milênios, tapetes de pedras acabam se desenvolvendo no local.
De acordo com um estudo de 2016 da Scientific Reports, os estromatólitos dominaram o registro fóssil da Terra por quatro quintos de sua história, sendo que os mais antigos têm uma idade entre 3,48 e 3,7 bilhões de anos. Mas eles não são apenas relíquias antigas: até hoje, a baía Shark, na Austrália Ocidental, abriga oito variedades distintas que ainda estão vivas.
Os seres humanos são especialistas em construir arranha-céus, mas, proporcionalmente, os cupins que cultivam fungos deixam nossa espécie no chinelo. Esses insetos minúsculos criam montes desabitados de até 7 metros de altura sobre seus ninhos subterrâneos. As torres funcionam como equipamentos naturais de ar-condicionado, mantendo o microclima do abrigo dentro da zona de conforto do organismo que os bichinhos usam como alimento.
Um estudo de 2015 descobriu que as estruturas funcionam aproveitando as oscilações de temperatura entre o dia e a noite. Durante o dia, os suportes externos aquecem mais rápido que as chaminés centrais. Isso impulsiona a circulação, à medida que o ar quente sobe e o frio desce.
À noite, há uma inversão do quadro, já que os suportes mais expostos resfriam mais rápido que a chaminé, mais isolada. O processo libera ar rico em CO2, mantendo o ambiente ventilado e confortável.
Os castores são famosos por construírem represas de madeira, que eles usam para criar lagoas de águas profundas para seus alojamentos. Além de lhes dar um refúgio contra os predadores, essas estruturas podem transformar paisagens completamente. Estima-se que milhões delas cobriam o continente antes da chegada dos europeus à América do Norte, capturando centenas de bilhões de metros cúbicos de sedimentos.
Atualmente, a população dos roedores é apenas uma fração do que já foi um dia, mas eles ainda são uma força ecológica a ser considerada. Alguns espécimes empreendedores estão se movendo para o norte na tundra ártica, causando mudanças na região. Mas nenhuma barragem conhecida se destaca tanto quanto a de 800 metros de largura no Parque Nacional Wood Buffalo, no Canadá — a maior já encontrada.
Em regiões da Argentina e do Brasil, túneis subterrâneos de até 4 metros de largura e mais de 40 metros de comprimento podem ser encontrados em meio à paisagem. Mas eles não são cavernas comuns: são buracos escavados por animais mortos há muito tempo. Pesquisadores catalogaram 310 dessas “paleotocas”, algumas das quais ainda estão relativamente vazias — e exploráveis.
Em 1992, o pesquisador Carlos Adrián Quintana descreveu um local na cidade de Mar del Plata contendo 23 metros de túneis, com cerca de 1 metro de largura e 76 centímetros de altura. Espécies extintas de tatus grandes provavelmente foram responsáveis por muitas dessas tocas pequenas. As maiores, no entanto, talvez tenham sido feitas por preguiças terrestres gigantes, primas extintas das modernas que podiam pesar mais de 700 quilos.
A Grande Barreira de Corais, um corredor de 2,3 quilômetros na costa nordeste da Austrália, é uma maravilha biológica frequentemente considerada a maior estrutura viva da Terra. Esse mosaico de 3.863 recifes individuais é lar de cerca de 9 mil espécies de vida marinha, incluindo mais de 1,6 mil tipos de peixes, 6 de tartarugas-marinhas, 30 de mamíferos marinhos e 14 de serpentes-do-mar.
Apesar de seu imenso tamanho, a construção também é surpreendentemente jovem. De acordo com um artigo da Australian Academy of Science (Academia de Ciências da Austrália), ele começou a se formar entre 6 mil e 9 mil anos atrás, depois que o derretimento da última Era do Gelo aumentou o nível do mar.
Mas ele hoje enfrenta ameaças sem precedentes. Os seres humanos estão alterando o clima da Terra em uma escala global, e o estresse térmico que antigamente danificava apenas pequenas porções agora devasta enormes trechos. Em abril, cientistas relataram que uma onda de calor em 2016 matou cerca de um terço dos corais, mudando permanentemente grandes partes desse ecossistema. Outra onda, em 2017, deu mais um golpe doloroso. Nos últimos 3 anos, aproximadamente metade dos corais morreu.
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