Conheça o Concorde, o avião supersônico que estava à frente de seu tempo

07/11/2018 às 10:303 min de leitura

Imagine fazer em apenas 3 horas uma viagem que geralmente demoraria 8 horas. Mágica? Que nada: essa era a capacidade técnica do Concorde, um avião supersônico que começou a ser produzido na década de 60 como o futuro da aviação comercial, mas foi abandonado no final de 78 — para a infelicidade de quem acreditava piamente no sucesso do projeto, que, na época, foi apresentado como uma revolução no transporte aéreo.

O interesse comercial por aeronaves supersônicas surgiu na década de 40, quando o piloto de testes Chuck Yeager, da Força Aérea dos Estados Unidos, se tornou a primeira pessoa a quebrar a barreira do som utilizando um Bell X-1. Experimental, o veículo atingiu o Mach 1 (cerca de 1,5 mil km/h), mas jamais poderia ser usado comercialmente, em virtude do uso excessivo de combustível.

Porém, o protótipo acendeu uma lâmpada na cabeça dos engenheiros americanos, que passaram a pesquisar formas de criar aviões supersônicos capazes de transportar passageiros com maior agilidade. Vários países participaram dos estudos primordiais, mas só três potências firmaram um acordo para desenvolver um produto de verdade: a União Soviética, a França e o Reino Unido.

A exótica parceria fazia sentido: um projeto tão ambicioso era caro demais para que um único país o custeasse sozinho. O contrato, dessa forma, tinha fins econômicos. Porém, a atual Rússia resolveu construir seu próprio modelo — o Tupolev TU-144 —, enquanto os franceses e os britânicos passaram a trabalhar no Concorde.

Mais rápido que o som

O primeiro protótipo da aeronave foi concebido através de parcerias com uma série de empresas — a Rolls-Royce, por exemplo, ficou a cargo dos motores, enquanto outras companhias terceirizadas cuidaram da missão de aprimorar os sistemas de voo, o desenho das asas e pneus especiais que pudessem suportar um calor extremo. Nascia assim o primeiro avião comercial a atingir o Mach 2, equivalente a 2.469 km/h. O diferencial do Concorde, porém, era manter tal velocidade durante um tempo muito maior.

Pelo menos 16 companhias reservaram unidades do veículo antes mesmo de ele ficar pronto — no total, 70 exemplares do Concorde já estavam reservados durante seu desenvolvimento. Contudo, o projeto passou a esbarrar em alguns problemas, como o aumento inesperado dos custos de fabricação. Inicialmente, acreditava-se que cada um custaria 70 milhões de libras para ser produzido, mas esse valor saltou para 1,3 bilhão de libras depois que alguns cálculos foram refeitos.

Além disso, ambientalistas protestaram contra o alto consumo de combustível do Concorde (ele usava 6,7 mil galões por hora, enquanto um Boeing 747 bebia apenas 3,6 galões) e seu potencial poluente. Para completar, entidades reguladoras baniram voos supersônicos comerciais por conta do barulho ensurdecedor que o Concorde fazia ao decolar e pousar. No fim, apenas duas companhias insistiram em usar o avião: a British Airways e a Air France.

A conclusão é de que apenas 20 versões finais do Concorde foram produzidas, das quais somente 14 entraram em atividade. As passagens para uma viagem através do invento eram caras demais, e ele só fez sucesso entre empresários ricaços e entusiastas de aviação civil. Seu primeiro voo comercial foi em 1976 e o último, em 2003. A crise do petróleo, as dificuldades financeiras das cias aéreas em manter os beberrões e a queda de seu principal rival — o supracitado Tu-144 — fizeram com que as empresas desistissem do Concorde.

Uma verdadeira lenda

Apesar dos problemas enfrentados, o Concorde virou um mito no mundo da aviação civil. Por conta das diferenças do fuso horário e por ser mais rápida do que a rotação da Terra, a aeronave era capaz de pousar antes do horário de decolagem quando partia da Europa. Para você ter uma ideia, no dia 19 de dezembro de 1985, um Concorde e um Boeing 747 decolaram ao mesmo tempo — o primeiro de Boston e o segundo, de Paris. O Concorde chegou em Paris, ficou 1 hora no solo e voltou para Boston 11 minutos antes do pouso do Boeing.

Apenas um acidente fatal foi registrado com o invento: em julho de 2000, uma peça de uma das unidades da Air France se desprendeu durante a decolagem, fazendo com que a aeronave sofresse uma falha e um incêndio em um de seus motores. O piloto tentou fazer um pouso de emergência, mas, mesmo assim, todos morreram. Contando com mais quatro falecimentos no solo, a tragédia resultou em 113 mortes.

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